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Eu e essa minha vontade de comer M&M´s de madrugada ainda vai dar em alguma coisa, ainda que essa coisa seja uma súbita vontade de escrever textos estapafúrdios e de conteúdo aparentemente duvidoso. O fato é que, ao calçar meus mais do que surrados tênis Puma Hemp para deslocar-me sonolento ao supermercado 24 horas com um único caixa em funcionamento, foi impossível não recordar a gloriosa figura do Sr. Fernando Gabeira e sua infame sunga roxa, já nem tão em áureos tempos.
"Porra", pergunta-se o intrépido leitor - "mas que caráleo tem a ver o cu com as calças?".
Enfim, se você chegou até aqui e não entendeu que relação há entre os M&M´s, Puma Hemp, Gabeira (aliás, seria Gabeira um clone do Ferreira Gullar, ou vice-versa? Bem, não importa tanto assim...) e a sunga roxa, talvez você não seja o leitor modelo que propõe o inglês Terry Eagleton em seu mais do que batido "Teoria da Literatura", ou ainda o italiano Humberto "acho ele chato" Eco, em qualquer uma de suas publicações teóricas que tanto me entopem de desespero e sono. Mas enfim, qual é a alegria em ser um leitor modelo e não um burro de carteirinha que bóia até mesmo em conversa de elevador? A alegria, companheiro, é que você pode entender tudo o que está escrito aqui, embora não pareça fazer sentido, sem precisar consultar o oráculo virtual mais apreciado pelos intelectuais formados pela UNIGOOGLE, com pós graduação na Wikipedia.
E pensar que eu poderia gastar todo meu tempo e vernáculo explicando, usando até mesmo de exemplos semióticos, mas para que? A pergunta que nunca vai calar é a que se faz todo dia em que se nasce novamente. Não explico, não escrevo, não exemplifico, não desenho. E que fique o dito pelo não dito, até mesmo porque se você é uma anta de carteirinha de nada adiantaria perder o meu e o seu tempo. Em sua falsa intelectualidade jamais entenderia a arbitrariedade do signo, pois para o cérebro intelectualóide tudo o que é arbitrário fere o conceito de liberdade, que é algo que deve ser respeitado acima de toda e qualquer coisa. Blablabla clássico, recheado de citações clichê, mais clichês do que o próprio fato de ser clichê. Ah, malditos cérebros de molusco, malditos seres que pensam conhecer tudo, poder discutir qualquer coisa, que criticam tudo que vai contra o conceito de sociedade, mas que dão risada das próprias misérias.
Mas voltemos ao Gabeira e a sua sunga roxa. Percebam que não estou seguindo um sistema organizado, não estou usando recursos narrativos de livrinhos. Talvez tenha você o mesmo susto que tive quando li "Bestiário", mas deixarei isso para outro texto, porque aí sim, Gabeira nada tem a ver com Cortázar, e Cortázar nada tem a ver com M&M´s. Fernando Paulo Nagle Gabeira, um tiozinho de respeito, escritor, político, jornalista, autor de Diário da Salvação do Mundo e O que é isso, Companheiro?, entre outros, ficou famoso não apenas por suas obras, mas também por ser um dos mais sérios e ponderados defensores da discriminalização do cânhamo e, infelizmente, por aparecer em não tão áureos tempos trajando uma ridícula sunga de cor indefinida que aqueles que sofrem do problema de não identificar cores chamaram de roxa.
E meu Zezuis da Galiléia, se tu ainda não entendeste a relação das coisas, trocarei meu Puma Hemp por um Adidas made in China - TUDO é feito na China - fecharei meu wordpad e voltarei à pilha de livros que tenho para ler, acompanhado de duas versões distintas de M&M´s, uma de chocolate, outra de amendoim. E claro, para todos aqueles que, assim como eu, consomem toneladas de M&M´s por ano, é fato que o preferido é sempre o roxo, que aparece em proporção infinitamente menor do que o marrom ou azul. Roxo, e não lilás, nem vinho. 100% de cyan + 100% de magenta. Isso, procura no Google o que vem a ser essa estranha equação...
E ficamos por isso mesmo, pelo menos por enquanto. O fato é que fui convidado para jantar em um lugar da moda, recheado de pessoas tipicamente lugar comum, intelectualóides de carteirinha, enólogos, baristas, gourmets, toda sorte de atores, atrizes, comediantes, escritores, poetas, cineastas, estrelas de máxima grandeza, hipócritas assumidos, idiotas de todos os modelos. Fui convidado, mas não aceitei. Não me misturo com essa gentalha. Vou novamente ao supermercado 24 horas para comprar duas caixas de leite, colocarei-as no freezer para que gelem bastante e vou chamar minha amiga querida, inteligente e divertida para tomar um Nescafé Ice com Chantilly de dez reais. Gelado. E com certeza poderemos discutir a sunga roxa, Eagleton, Sartre, Eco, funk carioca ou nada disso. Muito mais cool e cult do que discutir coisas cool e cult que beiram o clichê, ou fingir saber diferenciar Malbec de Cabernet Sauvignon apenas pelo cheiro.
Para que minha noite seja melhor só faltará mesmo a presença de uma criaturinha doce, linda, inteligente e divertida que sonha em ser James Bond para roubar côcos no estacionamento do supermercado. Agora, apanhado em um momento de recente nostalgia, recordo-me daqueles pezinhos 35 erguendo-se ao limite, das maõzinhas ajeitando os óculos enquanto observa o último engradado para certificar-se da veracidade e qualidade dos côcos. Ela desenvolve estratégias, eu dou risada e apóio o que quer que ela faça.
Logo depois deixa-me em casa. E novamente levanto, calço meus surrados Puma Hemp... agora, o que eu escrever na volta já é uma outra história.
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cmarcellus