sábado, 5 de janeiro de 2008

Sartrilégio


Não é fácil formar-se em Letras. Digo, não é fácil ser formado em Letras. Muito menos continuar no caminho das pedras, digo, das Letras. Você deve estar pensando que é porque vou ser pobre, mas não é nada disso. Pobre é você, se não no banco, no espírito. O difícil mesmo é que quando você é letrado às últimas conseqüências, te falta amor no coração para tolerar as besteiras que proferem sem pudores por aí. E como falam besteira. Dos analfabetos aos doutores, passando ferozmente pelos pseudo-intelectuais, todo mundo se "metida" a falar da nossa área cheio de propriedade. Falam de língua e literatura como xingam o juiz de ladrão. E é uma rajada de lugares-comuns, preconceitos, moralismo, divagações sem fundamento e besteiras afins. E me permito a revolta, pois nunca me entreguei a falar dos temas de propriedade dos engenheiros por aí. Se o fizesse, é provável que sairiam coisas do mesmo nível, e não quero nenhum engenheiro sentindo vergonha por mim. Mas nem todos têm a mesma sensatez (pelo menos com relação aos assuntos a debater). Sartre, por exemplo, é um desses. E é dos piores: o faz por escrito, oferecendo a eternidade às suas besteiras. Ontem li Que é a Literatura, do referido senhor. Li, aspas. Li até a página 42. E tive espasmos. É infinitamente ruim. Ele diz que os críticos são senhores cujas esposas mal humoradas dormem de calça jeans e não são suficientemente amados pelos filhos. Diz também que o leitor jamais chegará ao nível de compreensão de uma obra do autor. E completa diferenciando a prosa da poesia: para a poesia, a palavra é objeto, para a prosa a palavra é signo (tá, dá pra se pensar, mas se fosse uma regra teria talvés mais exceções do que casos que a seguissem...), e, portanto, a poesia não deve ser engajada, enquanto a prosa tem por obrigação a militância. Jezuz Christopher! A pessoa pensa que porque é O Sartre, pode falar o que bem entende. Acontece. Que o diga Mario Vargas Llosa e José Saramago. E não nos esqueçamos do nosso ilustre local Ferreira Gullar. Mas a estes prestarei minha humilde homenagem em momento oportuno. Agora quero saborear minha raiva do Sartre. Ah, por favor, quando eu ficar famosa me lembre de não falar sobre física quântica. Só por garantia.
Juli P.


5 comentários:

  1. muito bom, julieta! engraçado e sério, hehehe

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  2. ...hum, porreta!


    Uma quenga, sem caroço, por favor!

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    Curti mesmo.
    Ano começou bem virtualmente.

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  4. Ha! Muito bem entonado, eu diria.

    Beto.

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  5. Aliás, o "Que é a literatura" parece nome da coleção primeiros passos!

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Curitiba, PR, Brazil
n substantivo feminino Regionalismo: Nordeste do Brasil. 1 vasilha feita de metade de um coco-da-baía da qual se retira a carne 2 Derivação: por metonímia. o conteúdo dessa vasilha; quengo 3 Uso: tabuísmo. mulher que exerce a prostituição; meretriz 4 Uso: informal. coisa imprestável, inútil