Há anos esperava por aquele momento. Não pôde esperar mais, precisava realmente parar. A bolada arrecadada depois de tanta dedicação, dedicação exclusiva, renderia um bom tempo de segurança e tranqüilidade, que já não conhecia mais. Também por isso não possuía amores, nunca pensou em constituir família. Não compareceu ao enterro do pai, viúvo há muito. Único elemento da prole, enviou apenas um cartão e algum dinheiro para as despesas funerárias. Mal teve tempo de chorar-lhe a morte.Tudo acertado, ansioso, resolve colocar em prática os planos. O apartamento, em andar alto, propiciava o silêncio tão almejado. Os aparatos eletrônicos, de informática, os mais modernos que conseguira encontrar. Celular desligado, o interfone só tocava para avisar que a correspondência bancária ou a pizza diária chegavam. Aproveitava o tempo ocioso para procurar os melhores roteiros, todos pareciam interessantes, mas companhia só as de viagem. Encontraria durante os belos trajetos imaginados.A correspondência ia escasseando à medida do tempo, e o interfone agora só anunciava mesmo a chegada da esperada caixa de papelão, contendo o alimento diário. Na despensa havia uma provisão de refrigerante para um batalhão. Via e-mail só chegavam propagandas, e os roteiros já lhe pareciam desinteressantes o suficiente para desistir deles. Depois disso, o espaço que mais ocupou foi o da manchete do jornal sangrento: PIZZA MATA GORDO: Corpo putrefato de homem obeso é encontrado em meio a pilhas de caixas de pizza e garrafas de refrigerante, em apartamento de classe média da cidade.
Patricia Fabro
essa é minha escritora
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