segunda-feira, 27 de outubro de 2008

auto-ajuda americana: modo de ler

Sempre gostei de escritores cínicos e/ou irônicos, desde um Luis Fernando Veríssimo, em que fica bem claro o que é ironia e que não passa de ironia, até um Dalton Trevisan, em que o cinismo toma proporções tais que certas pessoas são capazes de tomá-lo literalmente. Rubem Fonseca seria um meio-termo entre eles. Mas neste assunto o melhor do mundo - do mundo - é sem dúvida o machadão, como quando em Esaú e Jacó o conselheiro Aires diz que, como não tem nenhuma religião, de certa forma aceita a todas da mesma maneira. Vale lembrar que Machado morreu se recusando a receber a visita de um padre que queria lhe dar a unção dos enfermos.
Mas toda esta turma está correndo sérios riscos, pois está se formando uma séria concorrência de uma galera aí do norte, destes livros que sempre começam com números: 7 leis para ser feliz, 10 caminhos para fazer sucesso, 7 sacramentos da felicidade, 5 mandamentos dos pais, 8 dicas para ser um bom cunhado, porque as mulheres têm voz fina e os homens falam grosso etc. Quando você vai olhar a orelha, está dizendo que o cara é filósofo! Quer dizer que o século 21 está cheio de novos Sócrates! Talvez eles até tenham passado por uma faculdade de filosofia na califórnia ou em boston, arranhando um Dewey ou um Adam Smith e fazendo do dever kantiano o emblema do puritanismo white anglosaxonic protestant, mas eu faria questão de falar bem baixinho numa destas orelhas que a filosofia é o único curso em que, quando você se forma, não é nada! Filósofo? Tudo bem, pode até ser, o assunto aqui é mesmo a ironia, não é?
Certa vez um amigo disse que, assim que se formasse, escreveria um livro chamado "Como ganhar dinheiro escrevendo livros de auto-ajuda", um livro, dizia ele, típico de filósofo frustrado. Mas eu acho que a concorrência, mais do que na filosofia, está mesmo é no humor. Estes dias peguei um livro, que meu pai me obrigou a ler, chamado "Os segredos da mente milionária" e posso dizer que me diverti muito, parte dos capítulos era destinada a uma espécie de apologia da riqueza, mediante a crítica do preconceito que a "mente pobre" tem dos ricos, eu realmente dei umas boas risadas, e muito sinceras, que fizeram diminuir o meu Veríssimo na estante. Percebi que há algo a ser aproveitado em toda esta sub-literatura, ou melhor, que ela é perfeita. Basta escrever um prefácio deixando claro que se trata de uma caricatura e, como num passe de mágica, todo o conteúdo passaria, sem mudar uma linha sequer, de auto-ajuda para paródia da mesma.
Sem essa de que auto-ajuda americana é sub-literatura, ela é, na verdade, algo tão sutil que traz em si a própria paródia, são livros auto-depreciativos por excelência, um neo-kafkianismo, as pessoas é que os lêem de forma errada, ipsis litteris, basta uma mudança de point of view e voilà! Temos o melhor humor que já se produziu em todos o tempos, envolvido na mais fina sutileza, longe de qualquer ironia grosseira, de quaisquer críticas cheias de remorso, pois a melhor forma de falar mal de alguma coisa é amando esta coisa, só assim este falar-mal é completamente imparcial. E, então, poderíamos dizer: quem diria! um escritor tão medíocre era, na verdade, uma revelação do humorismo!

Otávio Luiz Kajevski Junior

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

CARDÁPIO FALOCENTRISTA

Por Julius Calígula Caesar [Júlio para os íntimos]

(Uma opção “vegetariana” no restaurante que tem o “Cardápio Curitibano”)

Clóvis: Sujeito esguio. Sempre pronto para se gabar das qualidades que pensa ter. E quanto à fama de comedor? Mentira! É ruim de cama e tem uma minúscula piroquinha .

Kleyton: Um tanto quanto arrogante. Na fila pra feiúra, passou ao menos umas três vezes. Mas como dizem: Quem vê cara não vê o que tem dentro do calção. Reza a lenda que agüenta horas a fio sem tirar e que o tamanho assusta até mesmo a mais larga das meninas do passeio público.

Gilberto: Típico pedreiro. Não pode ver um rabo de saia passando, que logo dá aquala pulada de cerca básica. A mulher jura que é um santo.

Ricardo: É do tipo radical. Tem vários piercings em diferentes partes do corpo, alguns erogenamente localizados, e também dezenas de tatuagens. A última foi feita no próprio membro, teso, com os dizeres “Meu pau no cu, na boca, vou meter-vos”.

Gabriel: Robusto. Barba farta. Ombros largos. Peito cabeludo. Um tombo.

Fernando: Inicialmente parece ser só um nerd. Virgem e viciado em jogos on line. Fachada! Puxando o exemplar de Contos Libertinos, a parede revela um aposento secreto repleto de acessórios que assustaria até mesmo o mais pervertido leitor desta resvista, de algemas à chicotes, de correntes a consolos à la Kid Bengala.

Hugo: Faz unhas, cutículas, sobrancelhas.

Beto: Michê.

Alex: Tem muito amor pra dar. Em se tratando do seu desempenho não há um conceito definido; há quem diga que faz loucuras e há quem diga que é a brochura em pessoa – quando alguém o questiona sobre esse fato, mais que depressa responde: “Estou sempre aberto. Vamos pra casa comigo e tire suas próprias conclusões.”

Bob: Músico, boêmio, disputado. Despudorado.

Renato: Dizia-se hétero, mas um “Ah, Leila, eu também!”, depois do comentário da mesma “Ah, eu preciso de um homem!”, revelou suas verdadeiras ganas.

Duas amigas:

[...]

-É, poderia ser melhor, diz.

-Ah! Não reclama. É de graça. Tudo bem que a variedade não é lá aquelas coisas. Bom... Eu quero um de cada, pra começar...

[...]


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Spleen TS Elliot- Tradução

Segunda: processão satisfatória
Das caras definitivas de domingo.
Gorros, chapéus e graças conscientes
Em repetição que afasta 
a autoconsciência
pela involuntária digressão .

Tarde, luzes e chá!
Crianças e gatos no parque;
Tristeza incapaz de correr
Contra essa chata conspiração.

E brinca, um pouco seco e cinza,
Languido, fastidioso e maçante.
Espera. Chapéu e luvas à mão,
Amarrado de gravata e traje,
(de algum modo impaciente pelo atraso)
Na porta do Absoluto.

 Janeiro 1910

Tradução - Lívia F. M. (Lili)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

VOCÊ JÁ LEU SUA MARIE CLAIRE HOJE?

As agruras sentimentais das mulheres perfeitas
Não precisa ser nenhuma feminista com bigode para ler a sua revista feminina e não se encontrar dentro do modelo de mulher que querem que você siga. Mas de fato, este é o modelo de mulher bem sucedida. Com certeza não é o da mulher perfeita.

A mulher perfeita encontra muitas pedras no caminho. A mulher bem sucedida é bonita e fundamentalmente esperta para se adaptar às situações e a sociedade. Adapta seu corpo, seu discurso, suas posições e até mesmo sua felicidade em nome de uma vida confortável. Enquanto isso, a mulher perfeita vive constantemente o conflito de estar num mundo que não foi feito para ela e ao qual nem sempre se adaptar parece a solução mais digna. E dignidade é a primeira das virtudes da mulher perfeita.

Sexualmente, tanto a mulher perfeita, quando a bem sucedida são liberais. A diferença é que a mulher bem sucedida usa sua sexualidade a seu favor: sabe segurar e liberar na hora certa para causar boa impressão no público masculino, e, sobretudo, no alvo desejado. Liberando, ela será liberal e irá aonde for preciso para satisfazer seu parceiro e garantir que ele queira repetir a dose quantas vezes ela desejar. Enquanto isso, a mulher perfeita é bem resolvida sexualmente e sabe o que quer: prazer, tanto quanto o parceiro. Vai até onde for a sua vontade, é consideravelmente dedicada, pois sabe que relacionamentos – inclusive os sexuais – só se constroem a dois, e é justamente por isso que, não sendo correspondida a altura, a mulher perfeita pode simplesmente deixar o (não-)parceiro na mão, inclusive no sentido literal. Ela não irá sorrir, fingir orgasmos múltiplos e elogiar a performance insatisfatória. Agora, me diga, que homem quer correr esse risco? É claro que a mulher perfeita sai perdendo. Mas ela não se importa, pois acredita que para estar ao seu lado, o homem tem que saber lidar com esta possibilidade e chegar com toda disposição de realizá-la. Se não for assim, não vale à pena. Quanto aos jogos sociais praticados pela mulher bem sucedida, esperando o momento ideal para interagir sexualmente com o parceiro para que não pareça uma mulher “fácil”, promíscua, a mulher perfeita não pratica. Sabe que o risco de ser pouco respeitada e percebida como apenas uma fonte de sexo fácil é grande, mas no fundo ela acredita que, se isto acontecer, era apenas mais um homem errado e cortará relações. O homem que ela espera para ela, definitivamente não se importará com isso.

A mulher bem sucedida é bonita. Não se descuida do seu corpo, esconde os sinais da idade e é “antenada” com as tendências da moda. A mulher perfeita é linda, pois sabe que a maior beleza está muito mais nas particularidades do que na padronização. Sabe que seus peitos ou bunda maiores ou menores do que a norma, e a sua barriguinha que nem de longe lembra a da Bündchen, longe de serem defeitos, é que lhe conferem a sua beleza natural, a sua sensualidade espontânea e um corpo que é exclusivamente seu. Também sabem que cada idade tem a sua beleza e, se são pessoas mais realizadas consigo mesmas aos 30 anos do que aos 20 (porque a experiência ensina muito às mulheres perfeitas), não existem razões coerentes para querer continuar com o mesmo rosto e o mesmo corpo de 10 anos atrás ou ter vergonha de dizer sua verdadeira idade. Sabe que é linda do jeito que é, e justamente por ser do jeito que é. Também sabe que “la mode est demodée, mais le style jamais”. E não há homem no mundo que não se impressione com a beleza estonteante e única da mulher perfeita – e aí reside outro problema: frente a ela, que sempre foi e sempre será a mulher mais linda do mundo, não é raro que os homens cheguem a um nível de excitação tal que se convertam em verdadeiros adolescentes completamente passíveis de ejaculação precoce (na melhor das hipóteses).

A mulher perfeita é inteligente. Sua inteligência reside inclusive no fato de saber que não sabe tudo, de estar disposta a ouvir sem muitos preconceitos e negociar opiniões. Ela entende de assuntos que historicamente não lhe dizem respeito: de política a futebol, passando pela filosofia. Ela pode até babar pelo Chico, mas consegue reconhecer o valor daquilo que é genuinamente popular (o que não é mesmo o caso do Chico). Ela conversa de igual para igual, e não tem medo de tópicos desconhecidos, de discordar ou de admitir que não saiba. Enquanto isso, a mulher bem sucedida limita-se em ser agradável: fala sobre assuntos leves e atuais, de acordo com as bem sondadas preferências do parceiro. Mostra-se interessada, mesmo quando sente sono, e não deixa de dar uma averiguada na Wikipédia algumas informações que podem ser chave em algum momento específico. E, sobretudo, ela deixa claro como as opiniões do parceiro ou batem exatamente com as dela (impressionante!) ou são tão brilhantes que ela está profundamente admirada com o intelecto do rapaz. E é claro, a mulher bem sucedida é muito agradável. Já a postura da mulher perfeita costuma ou causar repulsa imediata, ou atrair absurdamente. Porém mesmo aqueles que se sentem extremamente seduzidos pela inteligência da mulher perfeita, não raras vezes sentem-se diminuídos perto delas. E se eles não assumem uma postura agressiva de competitividade com relação a isto, então assumem uma postura de inferioridade e idolatria – e a mulher perfeita espera uma relação igualitária (não em papéis ou comportamentos, mas em valor) e não suporta ficar em uma posição de superioridade. Ao mesmo tempo em que este homem alimenta o ego dela, ele também perde o respeito e o desejo desta mulher de maneira irreversível.

Como conseqüência da sua inteligência, a mulher perfeita é naturalmente engraçada. Percebe a ironia do mundo, e aproveita para se divertir. Enquanto isso, a maioria dos homens espera que as mulheres riam das suas piadas, e não o contrário. Afinal, o humor sempre teve um poder de subversão em potencial, e subversão é um terreno predominantemente masculino. Além do mais, o humor também sempre tem um “Q” de virilidade, falta de classe e delicadeza. E para ser bem sucedida, a mulher bem sucedida não conta piadas, mas é uma ótima parceira para ouvir e rir, mesmo que não entenda ou não ache graça.

A mulher bem sucedida está inserida no mercado de trabalho e poderia ter sua independência financeira. Mas ao mesmo tempo, morar com os pais até o casamento lhe confere certa respeitabilidade, segurança e faz com que sobre dinheiro para seus pequenos luxos femininos. Quer casar e continuar trabalhando – para manter seus pequenos luxos femininos, é claro. Seu parceiro acha isso lindo: uma mulher moderna, mas que não lhe tira o posto viril de provedor. A mulher perfeita também trabalha e, bem ou mal, dá um jeito de pagar suas contas e, é claro, garantir também sua diversão. A mulher perfeita não espera por um homem rico, mas por um homem adulto – independente da sua idade – que consiga fazer o mesmo que ela. E é claro que ela gosta de presentes e gentilezas: mas não faz diferença se trata de uma jóia cara ou um bilhete de amor. Porque, ao contrário do que se pensa, a mulher perfeita é muito romântica, e quando o assunto é amor e dinheiro, a mulher perfeita é uma verdadeira “Amélia”: deixa a questão financeira para os economistas, pois sabe que racionalidade e paixão nunca andaram e nunca andarão juntas. E se ela ganha mais do que ele, pouco importa: ela é inteligente e sabe que dinheiro é uma questão contingencial. Isto, porém, tira o conforto masculino, que sempre teve na dependência financeira, social, física e emocional da mulher o seu grande alicerce romântico. O peso da história dificulta que percebam que o bonito de se compartilhar a vida com alguém é justamente em fazê-lo por opção, por pura escolha e vontade, ainda que implique no permanente risco de perder o objeto amado. Mas quem foi que disse alguma vez que o amor era algo seguro? Amar, no fim das contas, é entregar um coração de vidro nas mãos de uma criança e viver o tempo todo com os medos dos riscos que implicam tal entrega. É justamente esta a graça. Agora, eu vos digo que amar assim não é para qualquer um. É sofrimento por uma recompensa meio incerta que só as pessoas perfeitas se dispõem a encarar. E esta é outra qualidade fundamental da mulher perfeita: ela é naturalmente ousada.

Por fim, paradoxalmente, a mulher perfeita é cheia de defeitos: paranóias, crises existenciais, carência... Isso sem contar a recorrência dos vícios autodestrutivos. A mulher bem sucedida sofre disto tudo também, mas tem uma qualidade que a mulher perfeita não tem: ela é discreta e só revela o que convém, e nem sempre é a verdade. A mulher perfeita é franca, impulsiva e se expõe demais, o que a leva a uma condição maior de vulnerabilidade.

Por fim, percebemos que, de fato, a mulher bem sucedida é realmente bem sucedida: no fim quem se dá bem é ela, enquanto a mulher perfeita passa a vida em maus lençóis. Portanto, é muito claro quem é a mulher bem sucedida. Mas muitos devem estar se perguntando se, no fundo, não é ela também a mulher perfeita. É tudo uma questão de ponto de vista. Ela é de fato a mulher mais adequada, com mais jogo de cintura e provoca a inveja de todos: em muitos momentos, inclusive da suposta mulher perfeita. É tudo uma questão de escolha – o caminho mais fácil ou o menos provável. Agora, a mulher bem sucedida pode ter quase tudo nesta vida, mas existe algo que ela nunca encontrará: o homem perfeito. É claro que este é o caminho das pedras. Como a mulher perfeita, o homem perfeito também é raro. Mas a mulher perfeita não se incomoda, porque ela nunca quis todos e nem os mais fáceis: se um dia ela encontrar o homem perfeito, ela dispensa todos os outros com o maior prazer. Afinal, o prazer que um homem perfeito pode proporcionar ainda que tardiamente ou por um curto espaço de tempo vale infinitas vezes mais do que uma vida inteira com os mais diversos homens, que no fim, só serão felizes ao lado das mulheres bem sucedidas mesmo. Agora, é uma possibilidade remota, mas ainda que não dê certo, a mulher perfeita ainda poderá dizer que valeu à pena, afinal, incluindo altos e baixos, é ela quem realmente no fundo se diverte mais do que ninguém.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Banquete curitibano





eu fico toda nua
de joelho descabelada na tua cama
eu fico bem rampeira
ao gazeio da tua flauta de mel
eu fico toda louca
aos golpes certeiros do teu ferrão de fogo
ereto duro mortal

[Cantares da Sulamita – Dalton Trevisan]




Rubia – religiosa, porém sofre de vertigem. O sexo, além de ser algo novo é para ela um grande mistério, sonhou certa vez que estava trepando com Judas. O par de peitinhos ainda brota, veladamente, sob a blusinha de renda feita pela avó.

Rafaela – descobriu o sexo com seu primo. Um descuido dos pais, e lá estava o primo mostrando seu punhal reluzente. Desde então, traça os amigos da mesma idade. Já mostrou a flor para um grupo de adolescentes na biblioteca da escola pública. A rapaziada gostava de sentir o perfume.

Débora – safada e vingativa, gosta de ser amarrada na cruz. Pendurada pelos braços, uma pimentinha vermelha. No estágio sempre chupão risadinhas. Acredita que o sexo é algo transcendental. Gosta de chupar, desde que não gozem na boca.

Mariana – sonhava em ser cantora, no entanto, entrou sabe deus como na universidade pública e começou a celebrar shows de striper para as festas do DCE. Bêbada, dizia entrar em contato com Baco. Já foi flagrada nos corredores universitários afogando o ganso de um professor doutor em letras vernáculas. Evoé!

Taís – não sabe quem é Marquês de Sade, mas gosta de ser sodomizada. Seu maior desejo é trepar com dois caras de uma só vez. Expliquei para ela: isso se chama ménage à trois.
Raquel – conhecida como a nínfomaníaca da faculdade de letras. Gostaria de bater o recorde e provar todos os acadêmicos. Um por um. Nas sextas-feiras de lua cheia, veste uma de suas inúmeras calcinhas comestíveis com estampa de S. Antônio, presente de uma cartomante aposentada.

Tamara – mestranda em estudos literários. É fã da artista plástica Lempicka e estuda a obra de André Gide. Diz ser gay. Mesmo assim bateu, numa tarde de outono, em seu apartamento, uma punheta para seu colega. Realizou o sonho do amigo.

Bruna – dezessete anos. Peitinho em flor. Cultiva pombas em sua casa. Acha que Clarice Lispector lhe revelou seu lado ambíguo. Experimentou com sua amiga alguns beijinhos. A revelação lhe corou o rosto. Tocou uma siririca pensando em seu professor de filosofia.
Esther – gosta de trepar com os africanos que fazem intercâmbio no curso de psicologia. Às vezes em grupo. Gosta do pênis rijo de glande inchada. No sexo anal, de pé, olha-se no espelho apreciando seu corpo branquinho em contraste com a cor negra dos filhos de ghandi. Confessou levitar na maioria das sessões grupal.

Luzia – é homem.

[que belo cardápio, exclama o homem. Chama o garçom]


[Um material elaborado pela companhia Giuliano Gimenez
& Otávio Luiz Kajevski LTDA.]

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Curitibana só é fria pra quem não sabe esquentar

Como frias barrigas de Jerivá
Como Pelunia ou Bromélia Imperial
Latana Amarela, Babosa de pau
Manaca de Cheiro, Tulipa, Fireball

Como luvas alvas de algodão
Como lépidas lascas de pinhão
Como face de menina sorridente
Ou leite quente q dói o dente da gente

Como a cidade
Como a água da torneira, do chuveiro
Na alvorada ou do dia inteiro
Na goela ou na pele ou no pêlo, no cabelo
1 palmo acima do joelho, no pentelho.

Como coberta q aquece, mas não sua
Como sua gélida bunda em contato
[com minha carne nua
como o beijo com lábios q colam
como o vai-e-vem do coro da minha "ceroula"

como seios dançantes ao relento
como coxas aos xotes acalentos
como no escuro suas diferentes facetas
como o sumo-gosto da sua "bochecha"

como um grunhido ao pé do ouvido
e na nuca um assopro do vento sul
como unhas encravadas nas costas
como o médio pegando no "copo"

Como seus olhos sedentos de desejo
Seu silêncio já pronto pra beijar
Como até a sua cara emburrada, porque...
Curitibana só é fria pra quem não sabe esquentar.


Rafael dos Prazeres
A Revista Quenga aproveita a oportunidade para mandar aquele abraço à Bahia e aos simpáticos homens de lá, que, na figura do nosso querido Rafael, nos prestaram esta bela homenagem! =0)

O PRANTO DA CONA DA PUTA

Atrelado ao pudor hipócrita daquela pequena cidade provinciana ele estava, condescendente ao costume pequeno burguês, discurso falso moralista e ao legado persa do maniqueísmo.
Trinta anos casado com Marisa Stela, cocota de família abastada, vinte anos amante semi declarado de Augusta Virgínia, viúva do coronel Rodrigues Sarça. Funcionário da Caixa por trinta e um, pais de quatro, dono de terras, carros, gentes, caminhava conforme o cabresto oculto de sua mãe, finada há dez.
Turrão, negava pão aos pobres e se contrariava ao fartar as mãos da igreja, representada pelo padre Onório, conhecido pela bifurcada língua e pela libidinosa lascívia com que se entregava aos jovens braços dos coroinhas.
Jazeu, com 59, na pútrida poça de sangue e vômito de sua última refeição, sopa de aspargos com bucho. Marisa sequer o limpou, os quatros brigaram pelos restos de mediocridade que o inventário garantia, a viúva de Sarça arranjou um vinte e cinco mais novo, o padre nada celebrou, alegando suicídio, pois ninguém se prontificou a pagar os custos do velório.
Caiu em vala comum, com bucho nas narinas e no seboso colarinho, regado aos prantos de Das Dores, puta, com quem, declarando fervoroso asco, negava olhares e ares em público. Foi só em seus braços e no regato da imunda cona de vasta melena crespa, devoradora sequiosa de quase todos os falos da cidade, que ele gozou e chorou.

Alexsandro Teixeira Ribeiro
Gostou? Então entre no blog do autor: www.correntesdeprometeu.blogspot.com

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ciência do coito interrompido ou Poema liquidificador

Desculpe
minha discrepância,
minha intolerância,
minha ignorância;
inconstância, ânsia,
insegurança "inbonança"
esperança de uma pança que só cansa
quando a anta que sou eu,
num espírito de louva-a-deus,
que deu, que não deu,
que feliz porque comeu,
que correu,
que ensinou e aprendeu,
que esperou e aconteceu
e num inverso de um breu
esqueceu-se
de pensar no seu
ipsis litteris eu,
tu,
você,
tatu,
numa tarde corpo nu,
haste de corpo vestido,
ido-voltado,ido-voltado,ido-voltado
cansado, copulado, arrepiado,
saciado por ter gozado,
não ter compartilhado
do tremor dos ossos,
do terremoto,
do "corpomoto",
do "camamoto",
do ajinomoto
do remorso,
do ócio que "arreta",
da tarefa que não cessa,
da escrita rápida e com pressa,
do suor à beça,
dos beijos que estressa,
da festa que bem me quer ou mal me queira,
da frenética noite antes de Feira,
da preocupação em casa sem eira nem beira,
da almejada saída da Ribeira,
do vai-e-vem inesquecível da sua cadeira,
da total perda de estribeira da minha parte,
da minha falta de arte,
Vênus em conflito com Marte pela falta de Plutão
Antes Vygots...ky Descarte,
o artefato estandarte pela falta de programação,
as características únicas da abstração,
a capacidade "large" de imaginar a ação,
reação e reflexão que ainda não aconteceram nem acontecerão
se não houver mediação entre a razão e a emoção.
E se não entendeu, eis um convite para a minha correção

Rafael dos Prazeres

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Inventário do homem normal

O homem normal existe. O homem normal tem um corpo e uma cabeça na qual dois olhos duas orelhas um nariz e uma boca dentro da qual uma língua vinte e oito dentes e duas obturações. O homem normal pentea cabelos ondulosos. O homem normal se estende pelo pescoço abaixo um par de sovaco ralos pêlos dois bicos de peitos um tronco liso com costas vertebrais espinha dorsal dois braços curtos umbigo sujo um pênis murcho um saco escrotal pelancudo duas coxas com pêlos dois joelhos escuros duas pernas tortas dois pés com frieiras e dez dedos com unhas roídas. O homem normal termina nas extremidades. O homem normal tem uma boca pela qual entra objetos consumidos. O homem normal tem duas nádegas dentre as quais um ânus e pelo qual dejetos são expelidos. O homem normal contabiliza trinta e nove pintas no rosto mais catorze no peito uma na cabecinha do pênis cinco somando as pintas no par de pernas e quatro na testa. O homem normal espreme cravos que nascem do nariz adunco. O homem normal enfia um dedo no buraco do nariz e retira o pó ranhoso filtrado pelos pêlos. O homem normal introduz a meleca na boca. O homem normal engole a meleca. O homem normal almoça. O homem normal tem consciência de um intestino no qual ocorre a digestão. O homem normal acorda após a sesta com remela nos olhos cabelos desalinhados corpo amassado bafo na boca. O homem normal bebe água. O homem normal se refresca com o líquido bebido. O homem normal completa quarenta anos calça trinta e nove mede um e setenta com massa corporal de setenta quilos. O homem normal envelhece diante o espelho. O homem normal teme o câncer de próstata. O homem normal atentou tamanho o dedo do médico particular. O homem normal da cor branca. O homem normal grau colado profissionalizou em contabilidade. O homem normal é denominado de o contador.
Giuliano Gimenez

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O existencialismo é um humanismo: zera a reza!

Sartre nosso que estais na estante
Citado seja o vosso nome

Venha a nós os vossos livros
Seja feita a liberdade
Assim no Ser como no Nada

O ser-aí de cada dia
Nos dasein hoje

Perdoai-nos as nossas paródias
Assim como nós perdoamos
A quem nos tem par-odiado

E não nos deixeis cair em angústia
Mas livrai-nos da náusea. Amém.

Otávio Luiz Kajevski Junior

terça-feira, 17 de junho de 2008

Nota de esclarecimento

O texto Profissão: Bunda foi publicado antes de circular por aí a Playboy com o ensaio sensual da musa Mulher Melancia e o material que lança a diva como cantora. Nenhum problema quanto a Playboy. Ao contrário, achamos que bunda bonita é pra se mostrar. Por outro lado, o lançamento da fruta da estação como cantora poderia lhe tirar alguns dos méritos que foram atribuídos no texto acima citado. Mas como ela canta MPUBS ("Música Popular Urbana Brasileira de Sacanagem") e nós gostamos muito de MPUBS, mantemos nossa palavra e todos os méritos que anteriormente atribuímos a este icône da bundocultura brasileira.

As Editoras

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Nitidamente

Deus dá vida,
Nietzsche dá mente.



Juli Passos

domingo, 27 de abril de 2008

Profissão: Bunda



A bunda tem que ser livre para se expressar
Di Casqueaux, 1957.

É, não é BUDA, é bunda mesmo! Neste país tropical abençoado por deus e bonito por natureza ganhar a vida não é fácil. Nós, futuras críticas literárias, estamos cada dia mais cientes do perigo que enfrenta o trabalho artístico e intelectual na terra das bananas. Mas, uma profissão no final das contas é o que a gente faz para viver. Resulta que algumas pessoas têm alguns dotes naturais que permitem que isto seja logrado com um pouco mais de êxito. Ou não. É o caso da nova estrela do underground funk brasileiro: A Mulher Melancia.
Fenômeno de mídia, conhecida pela performance do “Créu1”, espera que sua imagem seja desvinculada de clássicos da MPUBS2 como ‘Cerol na mão’ 3, ‘Atoladinha’4, Boladona5, só pra citar alguns exemplos. Seus esforços vão na direção de afirmar sua subjetividade no meio da massificação do mundo capitalista atual. A indústria cultural está cada vez mais afetada pelo fenômeno acusado sabiamente por Walter Benjamin da regressão auditiva. Esquecemos que a arte não é produto, não é material de consumo. Ela tem um fundamento estético que toca no mais profundo da sensibilidade humana.
Dessa forma, a Mulher Melancia empreende uma luta diária nos meios de comunicação em massa pela defesa do cerne de sua arte, se negando a assumir uma posição que a transforma num produto vendável. Louvores a ela. Declara que não almeja ser modelo, dançarina, atriz, cantora, apresentadora de TV, bailarina, divulgadora de bens de consumo, escritora de auto-ajuda, personal treiner ou empresária do ramo estético. Seu nobre desejo é o de exercer dignamente o papel que lhe foi atribuído pela própria natureza, e a mãe natureza é sábia. A Mulher Melancia, ou melhor, seus glúteos, segundo o Houaiss6 definidos como o conjunto das nádegas e do ânus, são uma obra de arte da mãe natureza, e uma obra de arte não precisa de razão ou função.
Deus não dá o peixe, ensina a pescar e a Mulher Melancia trabalha arduamente em prol da obra do senhor7. Você leitor, pensa que é fácil manter um bumbum daqueles? Se você respondeu que sim, corra agora até o espelho mais próximo e confira o seu. Viu? Alteração visível da pele ou do tecido subcutâneo, às vezes de natureza infecciosa8, faixa, ou conjunto de faixas, de pele delgada e retraída, inicialmente vermelha mas que se torna esbranquiçada, e que ocorre esp. no abdome, nádegas e coxas, como resultado de hiperextensão da pele e atrofia da derme9, erupção folicular, papilar ou pustulosa resultante de inflamação com acúmulo de secreção, que afeta as glândulas sebáceas10 ou vaso sangüíneo ou linfático, esp. veia, dilatado e tortuoso, cuja parede perdeu a elasticidade; flebectasia11. São apenas alguns dos problemas que atingem a poupança dos populares. Ou seja, daqueles que não tem uma obra de arte abaixo das costas. Não abaixo as costas, que fique claro que não temos nada contra elas.
Jenifer Lopes, Carla Perez, Gretchen, Sheila Carvalho& Melo, Zezé de Camargo & Luciano, Feiticeira, Tiazinha, Mary Alexandre e Júlio12 são apenas alguns dos portadores de bundas que transcendem suas próprias existências, mas não compreendem o valor do seus popôs. Nenhum dos popozudos anteriormente citados leu Aristóteles. Como provavelmente você também não, mas a Mulher Melancia leu, caso contrário seguiria o exemplo nefasto dos seus colegas que insistem em achar uma função rentável para suas bundas. Blasfemam contra a verdadeira arte quando ignoram que a única função do objeto artístico é ser Belo13. Aristóteles abriria uma sorriso de orelha à orelha presenciando Mulher Melancia e suas melancias de atitude, que sabem o valor ontológico da arte.

Este texto foi possível sem a ajuda do CNPq e da Capes (já que ninguém aqui recebeu dinheiro nenhum deles neste mês, mas estamos abertas a propostas).

As Editoras (Lili & Juli P.)



1 “Para dançar créu tem que ter disposição, para dançar créu tem que ter habilidade, créu¸ créu¸ créu¸ créu¸ creu”(...) CRÉU, Mc. CRÉU. Cracolândia, 2007.
2 Como é de domínio público: Música Popular Urbana Brasileira Sacana.
3 “Eu vou passar cerol na mão, assim, assim, vou aparar pela rabiola, vou sim, vou sim(...)” TIGRÃO, Bonde do. Cerol na mão. Rio de Janeiro, 2001.
4 “Piriri, piriri, piriri, alguém ligou pra mim, quem é? sou eu bola de fogo(...)”QUEBRA-BARRACO, Tati. Atoladinha . Rio de Janeiro, 2005.
5 “Boladona, boladona, boladona, boladona, pam, pam, pam pam pam pam pam pam pam, boladona, boladona (...)” op. cit. Boladona. Rio de Janeiro, 2005.
6 Aurélio pai dos burros, Houaiss pai dos cultos.
7 Lembremos a respeito de outro clássico da série da MPUBS: “O senhor é meu paxtorrrr, e nadá me faltará. CATRA, Mixterr. Salmos do funk: a hora da alegria. Rio de Janeiro, 2007.
8 Vulgo: Celulite.
9 Vulgo: Estria.
10 Vulgo: Espinhas.
11 Vulgo: Varizes.
12 Vulgo: Putinha proletária. Opa, proletária não.
13 Belo este que graças ao bom pai eterno já saiu do xilindró.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

ÀDRIA

Àdria ela se vestiu, abriu a porta e saiu para sua prisão. Nunca soube o que era liberdade com aqueles fios de moral a lhe apertar. Mas não deixava nenhum sonho, por mais tolo que fosse, escapar dos seus olhos vermelhos; e se um inventava de fazê-lo... Àdria jogava lágrimas e eles voltavam maiores do que antes.
Quando já descia as escadas de papel, lembrou da chave na fechadura; mas não voltou para buscá-las. Já que não voltaria mais ali.
Respirou. Seguiu adiante, sem hesitar.
O interessante é que lá fora voava um vento arranca-postes-árvores-e-sofrimentos. E os arrancou de Ádria. Nada permaneceria no mesmo lugar, tão resoluta ela estava que aquele era o tempo exato para o que almejava: colocar expor arregaçar lançar o seu peito o seu coração para fora para que vissem o tamanho amor que carregava ali dentro embora muitas vezes seus olhos dissessem nada disso mas era aquilo que naquele instante subia ao espírito dos presentes pai mãe amigos amigas heteros gays crianças velhos estranhos empresários médicos budas cristos deuses Deus vícios tudo isso de um só vez na cara de todo mundo até os mortos ficaram assustados.
Até os mortos eles queriam ser engolidos por aquela luz vermelha nada de sangue de Dor e sim sangue de amor jorrando da fonte de seu corpo agora nu agora nua Ádria se deu a ficar como veio ao mundo na frente de todo mundo.
Agora era hora de partir.
Agora.
Sem demora.
Pegou um cálice de poesia da bandeja do garçom e... transfigurou-se em Beleza.
Isso mesmo: em Beleza!!!
Ádria ficara bela aos olhos de quem escreve este conto; e sabe em insana consciência que te lançou por alguns minutos alguma forma de delírio que nem mesmo quem escreveu este conto sabe explicar.
Abismo se faça em ti, leitor!...
Wanilson Pereira

segunda-feira, 31 de março de 2008

Linha


A fina chuva e o vento congelando meu nariz me faziam desejar voltar.
Os compromissos cotidianos me obrigavam a ficar e esperar. O ônibus não chega nunca. Com o pescoço virado na direção em que ele viria, como se isso o fizesse aparecer mais rápido, noto um homem chegando. Aproxima-se e pára ao meu lado. Balbucia um bom dia, respondo e dou dois passos em direção contrária. Alguns segundos suspensos e ele vem em minha direção. Senhor baixo, cabelos quase completamente grisalhos e oleosos, óculos pendurados no pescoço por uma cordinha encardida. Uma blusa de lã que pouco parecia aquecê-lo, carregava uma sacolinha. Reparei que mantinha a mão direita suspensa, e que ela tremia persistentemente. Os olhos que já deviam ter sido jabuticabas hoje não passavam de algo disforme e de cor indefinível. Me aborda, apontando para o muro à nossa frente, contando uma história teoricamente verídica: o dono daquele barracão havia lhe emprestado um maquinário para costuras, em troca de que ele comprasse seus tecidos. Simplesmente balanço a cabeça afirmativamente, e imagino que é mais um doido varrido à solta. Insiste. A imagem me angustia. A mão fremente e a sacolinha ritmada a ela aumentam a angústia que sinto enquanto ele fala e quase deixa a dentadura cair. Creio que notou e faz uma pausa. Eu pouco havia entendido do que ele tinha dito, mas notei que queria muito falar sobre trabalho. Muda agora de assunto, e explica, sem que eu tivesse perguntado, o motivo dos tremores: mal de Parkinson. Atingiu-o aos 60 anos, enquanto esperava, sentado na cama, a mulher preparar o café. Precisa se medicar de duas em duas horas, e não é sempre que o tremor é tão intenso, só quando fica excessivamente nervoso. Mas a doença não atrapalha no trabalho, nunca atrapalhou. Essa manhã já “tinha feito” 2 reais com o papelão que estava lá à toa, e que colocou no carrinho e puxou. Agora felicita a si mesmo sorrindo, pois consegue ainda trabalhar. Na sacolinha havia dois cones de linha branca: - Se a gente fica parado, fica sem sentido essa vida. O ônibus chega finalmente e eu, do tamanho de um botão, embarco e sento, tentanto apaziguar o nó que teimava na garganta.
Patricia Fabro

HOMEM-PIZZA


Há anos esperava por aquele momento. Não pôde esperar mais, precisava realmente parar. A bolada arrecadada depois de tanta dedicação, dedicação exclusiva, renderia um bom tempo de segurança e tranqüilidade, que já não conhecia mais. Também por isso não possuía amores, nunca pensou em constituir família. Não compareceu ao enterro do pai, viúvo há muito. Único elemento da prole, enviou apenas um cartão e algum dinheiro para as despesas funerárias. Mal teve tempo de chorar-lhe a morte.Tudo acertado, ansioso, resolve colocar em prática os planos. O apartamento, em andar alto, propiciava o silêncio tão almejado. Os aparatos eletrônicos, de informática, os mais modernos que conseguira encontrar. Celular desligado, o interfone só tocava para avisar que a correspondência bancária ou a pizza diária chegavam. Aproveitava o tempo ocioso para procurar os melhores roteiros, todos pareciam interessantes, mas companhia só as de viagem. Encontraria durante os belos trajetos imaginados.A correspondência ia escasseando à medida do tempo, e o interfone agora só anunciava mesmo a chegada da esperada caixa de papelão, contendo o alimento diário. Na despensa havia uma provisão de refrigerante para um batalhão. Via e-mail só chegavam propagandas, e os roteiros já lhe pareciam desinteressantes o suficiente para desistir deles. Depois disso, o espaço que mais ocupou foi o da manchete do jornal sangrento: PIZZA MATA GORDO: Corpo putrefato de homem obeso é encontrado em meio a pilhas de caixas de pizza e garrafas de refrigerante, em apartamento de classe média da cidade.
Patricia Fabro

Metafóricamente falando - Uma tarde com George Lakoff por Ethan Strauss (traduzido por Beto)

O poder de juntar duas crenças contraditórias em uma mente simultaneamente, e aceitando ambas; Mentir deliberadamente enquanto acredita-se nas mentiras genuinamente; Esquecer fatos que se tornaram incovenientes, e então, quanto se tornam necessários novamente, retirá-los do limbo durante o tempo em que for necessário; Negar a existência da realidade objetiva e só para acreditar na realidade que outra pessoa nega. Tudo isso é indispensavelmente necessário. Até usar a palavra "ambíguo" é necessário para exercitar a ambigüidade. Por usar a palavra admite-se estar mexendo com a realidade; o uso da ambigüidade destrói esse conhecimento; e assim indefinidamente, com a mentira sempre um salto a frente da verdade.
- de 1984, por George Orwell

Decidimos nos encontrar no café "Free Speech Movement". Eu me remexo pela fila interminável do café, esperando que George Lakoff chegue. Estou nervoso a esse ponto, talvez até me cagando de medo. Caralho, ele é famoso - famoso para um lingüista, talvez, mesmo assim: famoso. Lakoff amontoa best-sellers, fundou o pensamento progressivo no Instituto Rockridge e se envolveu em uma disputa a lá repentista rapper com Noam Chomsky, o padrinho da lingüística. Não estamos falando de disputas escolásticas. Em suas briguinhas sobre teorias abstratas, Lakoff disse, "Eu acho [o trabalho político do Chomsky] muito parecido com sua lingüística. Ele tem uma visão filosófica da linguagem e não aplica isso a linguagem de fato." Para o qual Chomsky respondeu, "Morra lentamente, filho da puta, morra lentamente!"
Se você proeminente é o suficiente para irritar Chomsky, você é foda.
Por volta das 15:40, George Lakoff emerge. Eu escolhi cuidadosamente minhas palavras por hora (e talvez só por aquela hora). Um homem como Lakoff não chega simplesmente, ele emerge. George Lakoff tem uma aura, um magnetismo, uma mística, e, o mais importante, o requisito de um professor fodasso: uma barba aterradoramente inspirante. Estou intimidado. Parece um horrível encontro às cegas, e Lakoff percebe meu nervosismo. Ele sabe que é superior; não há a mínima chance que eu o impressione. Um homem com uma barba cuidadosamente talhada não teme nada. Esse é um dos grandes mistérios da humanidade; um homem mal barbeado passa suas tardes na praça "Berkeley's People"; já um homem com uma barba bem trabalhada, aparenta estar sempre um passo à frente de alguém que recebeu um Nobel. Isso é justo?

Você Parece Um Homem Devastador

Aproximadamente um minuto após o inicio da conversa ficou claro que Lakoff adora o conceito de “incriminar”, o que eu vim a entender como o "uso de uma metáfora entre-linhas para comunicar uma idéia". Enquanto Lakoff murmurava que "o que os conservadores têm feito é mostrar suas idéias gerais para que suas idéias de verdade fiquem fora de foco", eu comecei a sentir como se estivesse em "Waking Life" [filme], eu tava esperando que a barba de Lakoff começasse a brilhar e pular para fora do meu campo de visão.
Durante toda a entrevista, não pude deixar a idéia de que Lakoff estava em piloto automático. Eu me senti como o espelho em que ele pratica antes de um discurso. Ele até me interrompia na maioria das vezes, e resmungava quando meu comentário ou pergunta o desapontava.
Lakoff até faz sentido. Conservadores são bons no uso de metáfora para se conectar às mais profundas questões humanas. Eles são também espertos o suficiente para usar frases como "alívio de impostos / diminuir impostos", "absorção parcial de nascimento" [acho que se refere a impostos de acordo com a idade] e "pacifismo liberal" para subitamente fazer uma lavagem cerebral em você. Eu até concordo quando Lakoff diz que os conservadores "mentem efetivamente" [mentira funcional] quando propõe impostos como "Iniciativa pela limpeza do céu".
A entrevista corre bem, já que Lakoff não pára de falar, e portanto, o ambiente não está tão terrível. Então algo não relativo à barba me ocorre: minhas perguntas são chatas e tediosas. Chatas e tediosas! Tenho que fazer algo quanto a isso. O estoque de respostas para meu estoque de perguntas cresce tediosamente. De algum jeito eu invoco uma questão legítima.
"Quando você está tentando levar pessoas para o seu lado político, quando os fins não justificam os meios? Quando isso é anti-ético, quando isso é mentir?"
Tensão preenche o pesado ar com aroma caféico. Todos os pretensiosos clientes do café param de falar sobre o que eles viram no PBS na noite passada e sintonizam para ouvir a resposta de Lajoff à minha pergunta mestra.
Stephen Colvert e Walter Cronkite simultaneamente me dão tapinhas nas costas enquanto Lakoff decide como me responder. Bill O'Reilly me joga seu prêmio Polke através do café. Tá, eu inventei tudo isso (exceto que Bill O`Reilly estava lá e de fato me jogou seu prêmio Polke... juro pela minha vida!), mas a resposta de Lakoff é 1.000.000 % verdadeira. Ele disse "Eu rejeito a questão".
Quê?! Ele realmente disse isso? Faz três horas que eu não consigo dormir e tô bebendo Coca Diet e subitamente eu me encontro super acordado e curioso pra caralho. Quando eu peço que ele elabore, ele diz "Eu rejeito as premissas da sua constatação". Caralho, esse homem é o cânone lingüístico!
De algum jeito ele transmuta uma questão numa constatação, lhe dando a brecha para que desvie de uma questão pegajosa. Lakoff reitera que fazer alguém concordar com você pode ser uma estratégia honesta. Você tem meramente que dizer o que acredita usando metáforas, descobrir qual metáfora funciona, e usá-la repetidamente. Esse é o velho "os carros vendem-se a si próprios" que os vendedores de carros usam para se grantir. Se você tem um bom produto, não é necessário mentiras ou exageros para vendê-lo. Tudo o que você precisa é de um firme aperto de mão e um pouco de lábia. Se você acha que estou comparando Lakoff a um vendedor de carros, bem, não estou. Mas realmente parece que sim.
Não interessa que teoria lingüística você aplique para explicar isso, esse jeito de pensar mata você politicamente. Com certeza você não precisa de "truques" para vender seu produto, mas com certeza ajuda. A minha mínima parte idealista quer abraçar essa filosofia pró-honestidade, mas nem rola.
Milhares de anos da história humana estão contra Lakoff nessa questão.
Anteriormente na entrevista, ele me disse que os conservadores parcialmente se dão bem porque mentem. "Essa é parte do seu sucesso [dos conservadores]", diz ele "Eles usam linguagem rebuscada e enganosa". Mas agora ele me diz que mentir não ajuda? Ele é como um microcosmo de evolução lingüística; "não mentir" e "mentir" podem significar a mesma coisa em Lakoffiano, quando no contexto certo (leia-se "quando ele quer estar certo"). Ele diz o que quer e quando quer constantemente.

"Glorificai, idiotas, glorificai!"


Eu sempre achei que pra alguém acreditar em Deus tinha que ser muito burro. Mas isso é passado! Agora a coisa se complicou; pra alguém acreditar em Deus tem que ser muito burro, ignorante e louco de esperto! Acreditar em Deus é uma das coisas mais espertas ever! Quem não quer ir pro paraíso? I mean, você tem duas escolhas:

1 - Ou faz do jeito Dele e vai pro céu

2 - Ou faz do teu jeito e vai pro inferno...

Eu prefiro ir pro inferno a ficar a eternidade (o que é bastante tempo) n'um lugar chato que nem o céu. E outra, o inferno é open-bar e o capeta é legalzão. Afinal, quem quer passar a eternidade rezando ou trepando com virgens? E depois da primeira trepada, o que acontece? Elas explodem ou o que?Eu quero ir pro inferno pegar geral, encher a cara e me drogar. Porque lá só tem os prós, não tem os contras do tipo ressaca (nem mesmo ressaca moral, pois moral é coisa do céu). E virgem trepa mal e faz cu doce... e são só AS virgens, não tem OS virgens, ou seja, só homem hetero e lésbica vai pro céu.O céu cristão é pior! Lá as pessoas não trepam! Não tem nem as virgens loucas pra dar... pensa bem, que tipo de gente vive na igreja? Sim! Santarronas e homem uó... dai você morre, vai pro céu, e passa o resto da sua eternidade cantando músicas do padre Marcelo Rossi ou daquela mulher que roubou milhões da igreja Renascer, ou do Edir Macedo, ao lado de pessoas como, ahn... padre Marcelo Rossi, Edir Macedo e a mulher louca de esperta da igreja Renascer... No Sex, No Drugs, No Balada. Tipo, é a eternidade ao lado de gente chata, do vizinho pastor da Assembléia de Deus, da tia uó que tava domingo de manhã na missa e depois do almoço fazendo batuque na laje.Já o inferno cristão é pra onde vai homem cafageste, pessoas que trepam, jogam, usam drogas, bebem, todas as bills da boate, todas as sandalhinhas da... boate?... (acabei de perceber que eu não sei nada sobre lésbicas)... Todas as pessoas da faculdade que tem cérebro suficiente pra negar a existência de um deus onipresente e onipotente. [aliás, esse, eu tenho que confessar, é um toque de mestre, dizer que existe um deus onipresente e onipotente é dizer que existe um deus que explica-se por si só, logo, você tira dos seus ombros qualquer necessidade de explicação], todo o povo do terreiro, do centro espirita ou qualquer outro culto religioso que não seja decididamente mono-cristão-teísta (o que é estranho, porque o catolicismo não é monoteísta nem aqui, nem na China). Ou seja, só as pessoas legais vão pro inferno.E, sinceramente, eles precisam renovar essa idéia de inferno deles, os tempos mudaram meus amigos... Aposto que existe milhões de pessoas que acham a idéia de ser torturado muito excitante. Quando eles vão acordar e perceber que a idéia de sofrimento é algo super pessoal... Acho que meu inferno seria ter que passar o resto da minha eternidade tendo que conversar sobre igreja com gente sem cérebro que não consegue explicar nada se não pela fé. [A coisa mais fácil ever é explicar algo pela fé, eu acredito, logo existe e pronto. Não há o que debater. Eu acredito no unicórnio rosa invísivel, ele é invisivel, logo não posso saber se ele é rosa, mas eu acredito que ele é rosa, logo ele é. Pronto. Simples assim.] Pra outro alguém o inferno pode ser um lugar cheio de crianças pra serem cuidadas. Pra outro um lugar onde só se pode comer banana.E sei lá, as mesmas pessoas que escreveram a bíblia mataram Jesus e falaram que a terra era quadrada. [E se Jesus chegasse agora no Vaticano, ele conseguiria ver o papa? Eu acho que não...]A idéia de céu e inferno é tão pessoal e idiota quanto qualquer outra idéia que a Igreja tenha implantado. E eu super me surpreendo que alguém que tenha feito o ensino médio e frequentado [e prestado atenção] as aulas história geral consiga acreditar na Igreja/igreja. Tipo, ou a pessoa não pensa ou simplesmente tem preguiça de pensar, o que é pior. Tá tudo ali: Calvinismo, Luthero, guerras, cruzadas, Vaticano, monarquia, etc, etc, etc... tudo, tudo, tudo. É tudo uma questão de dinheiro e política [com uma pitada de militarismo, sometimes]. E o pior é que nem criatividade eles conseguiram ter...Virgem tendo filho? Como é mesmo que Hércules ou Perseu foram concebidos? Ahn, mães virgens que tiveram algum tipo de relação com Zeus (opa, tira o Z e coloca um D). E eu não lembro o nome agora (my bad, sorry) mas no hinduismo tem a história de uma virgem (!) que estava banhando-se n'um lago, então a lua fez chover pingos prateados (!!) sobre ela e... advinhem, a virgem engravidou (!!!) TA DA! Satanás? Diabo? Capeta? Quanta criatividade pra nomes! Ops, se não fosse pelo fato que eles apenas tentaram transformar em mal o que para outras civilizações era o bem. Satanás, por exemplo, é o deus da fertilidade e da terra para uma tribo no México. O fato é que eu não consigo concluir esse texto ou qualquer coisa que o valha pois não há conclusão possível. Ou melhor, a conclusão é simples: Glorificai, idiotas, glorificai! Que enquanto isso, eu vivo.


Beto

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O Idiota



[Escrito por outro idiota]

Era o típico arquétipo prescrito na obra “O homem delinqüente” de Cesare Lombroso, ou seja, o marginal nato. Tinha cara de mal, barba por fazer, jeito de malandro, falcatrua, cafajeste em todos os sentidos. Papo agradável, as mocinhas adoravam. Algumas sabiam até o que ele realmente queria com elas, mesmo assim se arriscavam. Amigos? Tinha alguns poucos. Era muito seletivo, só gente agradável podia o acompanhar, sendo defesa a participação de pessoa que estivesse em outro estado de ânimo ou emocional divergente ao dele. Aquele que não sorrisse ou se embriagasse, era literalmente expulso de seu círculo social, como se fosse algo descartável. Traíra também era algo inerente à personalidade do dito cujo. Não podia encontrar brecha que já apunhalava por detrás até os melhores companheiros que o agradavam. Parecia sentir um prazer exacerbadamente mórbido em ser egoísta e egocêntrico, ignorando os sentimentos alheios, e desprezando quaisquer tipos de manifestações afetivas com relação à sua pessoa. Digo era, pois não é mais. Descobriu que semeou a árvore dos frutos malditos tarde demais. Estava beirando a meia idade, cabeça de adolescente. Os poucos que lhe acompanhavam evoluíram, mudaram, cresceram. Iam abandonando paulatinamente àquele que anteriormente idolatravam. Quando menos percebeu, sozinho estava num inferninho, sem ter alguém para criticar. Malditos! Ou não? Desesperou-se: ligou para um colega. “Desculpe, não sou mais juvenil...”. Tudo bem, não gostava muito. Outro: disse que estava ocupado demais cuidando de negócios. Ainda há esperança! Não deu certo, casou-se e tem dois filhos, outras prioridades atualmente. Finalmente, apelou às vadias. “Mudei: agora encontrei alguém, larguei o pensamento idiota de que saindo com qualquer um estava sendo uma mulher moderna...”. Subitamente desistiu, virou uma talagada de pinga barata. Estava triste, sentimento de fraco segundo sua convicção. Olhou ao redor em busca de solução. Nada. Parecia o fado grego, quanto mais tentava se distanciar do sofrimento, mais o encontrava. Estava sozinho. Descartado. Morto socialmente, assim como um cárcere. Viu seu reflexo no líquido translúcido de seu instrumento laboral. Quem observa ébrios habituais lembrará de sua última e derradeira fisionomia. E que a terra lhe seja leve!
"Idiota"

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O que é isso, companheiro?

.

Eu e essa minha vontade de comer M&M´s de madrugada ainda vai dar em alguma coisa, ainda que essa coisa seja uma súbita vontade de escrever textos estapafúrdios e de conteúdo aparentemente duvidoso. O fato é que, ao calçar meus mais do que surrados tênis Puma Hemp para deslocar-me sonolento ao supermercado 24 horas com um único caixa em funcionamento, foi impossível não recordar a gloriosa figura do Sr. Fernando Gabeira e sua infame sunga roxa, já nem tão em áureos tempos.
"Porra", pergunta-se o intrépido leitor - "mas que caráleo tem a ver o cu com as calças?".
Enfim, se você chegou até aqui e não entendeu que relação há entre os M&M´s, Puma Hemp, Gabeira (aliás, seria Gabeira um clone do Ferreira Gullar, ou vice-versa? Bem, não importa tanto assim...) e a sunga roxa, talvez você não seja o leitor modelo que propõe o inglês Terry Eagleton em seu mais do que batido "Teoria da Literatura", ou ainda o italiano Humberto "acho ele chato" Eco, em qualquer uma de suas publicações teóricas que tanto me entopem de desespero e sono. Mas enfim, qual é a alegria em ser um leitor modelo e não um burro de carteirinha que bóia até mesmo em conversa de elevador? A alegria, companheiro, é que você pode entender tudo o que está escrito aqui, embora não pareça fazer sentido, sem precisar consultar o oráculo virtual mais apreciado pelos intelectuais formados pela UNIGOOGLE, com pós graduação na Wikipedia.
E pensar que eu poderia gastar todo meu tempo e vernáculo explicando, usando até mesmo de exemplos semióticos, mas para que? A pergunta que nunca vai calar é a que se faz todo dia em que se nasce novamente. Não explico, não escrevo, não exemplifico, não desenho. E que fique o dito pelo não dito, até mesmo porque se você é uma anta de carteirinha de nada adiantaria perder o meu e o seu tempo. Em sua falsa intelectualidade jamais entenderia a arbitrariedade do signo, pois para o cérebro intelectualóide tudo o que é arbitrário fere o conceito de liberdade, que é algo que deve ser respeitado acima de toda e qualquer coisa. Blablabla clássico, recheado de citações clichê, mais clichês do que o próprio fato de ser clichê. Ah, malditos cérebros de molusco, malditos seres que pensam conhecer tudo, poder discutir qualquer coisa, que criticam tudo que vai contra o conceito de sociedade, mas que dão risada das próprias misérias.
Mas voltemos ao Gabeira e a sua sunga roxa. Percebam que não estou seguindo um sistema organizado, não estou usando recursos narrativos de livrinhos. Talvez tenha você o mesmo susto que tive quando li "Bestiário", mas deixarei isso para outro texto, porque aí sim, Gabeira nada tem a ver com Cortázar, e Cortázar nada tem a ver com M&M´s. Fernando Paulo Nagle Gabeira, um tiozinho de respeito, escritor, político, jornalista, autor de Diário da Salvação do Mundo e O que é isso, Companheiro?, entre outros, ficou famoso não apenas por suas obras, mas também por ser um dos mais sérios e ponderados defensores da discriminalização do cânhamo e, infelizmente, por aparecer em não tão áureos tempos trajando uma ridícula sunga de cor indefinida que aqueles que sofrem do problema de não identificar cores chamaram de roxa.
E meu Zezuis da Galiléia, se tu ainda não entendeste a relação das coisas, trocarei meu Puma Hemp por um Adidas made in China - TUDO é feito na China - fecharei meu wordpad e voltarei à pilha de livros que tenho para ler, acompanhado de duas versões distintas de M&M´s, uma de chocolate, outra de amendoim. E claro, para todos aqueles que, assim como eu, consomem toneladas de M&M´s por ano, é fato que o preferido é sempre o roxo, que aparece em proporção infinitamente menor do que o marrom ou azul. Roxo, e não lilás, nem vinho. 100% de cyan + 100% de magenta. Isso, procura no Google o que vem a ser essa estranha equação...
E ficamos por isso mesmo, pelo menos por enquanto. O fato é que fui convidado para jantar em um lugar da moda, recheado de pessoas tipicamente lugar comum, intelectualóides de carteirinha, enólogos, baristas, gourmets, toda sorte de atores, atrizes, comediantes, escritores, poetas, cineastas, estrelas de máxima grandeza, hipócritas assumidos, idiotas de todos os modelos. Fui convidado, mas não aceitei. Não me misturo com essa gentalha. Vou novamente ao supermercado 24 horas para comprar duas caixas de leite, colocarei-as no freezer para que gelem bastante e vou chamar minha amiga querida, inteligente e divertida para tomar um Nescafé Ice com Chantilly de dez reais. Gelado. E com certeza poderemos discutir a sunga roxa, Eagleton, Sartre, Eco, funk carioca ou nada disso. Muito mais cool e cult do que discutir coisas cool e cult que beiram o clichê, ou fingir saber diferenciar Malbec de Cabernet Sauvignon apenas pelo cheiro.
Para que minha noite seja melhor só faltará mesmo a presença de uma criaturinha doce, linda, inteligente e divertida que sonha em ser James Bond para roubar côcos no estacionamento do supermercado. Agora, apanhado em um momento de recente nostalgia, recordo-me daqueles pezinhos 35 erguendo-se ao limite, das maõzinhas ajeitando os óculos enquanto observa o último engradado para certificar-se da veracidade e qualidade dos côcos. Ela desenvolve estratégias, eu dou risada e apóio o que quer que ela faça.
Logo depois deixa-me em casa. E novamente levanto, calço meus surrados Puma Hemp... agora, o que eu escrever na volta já é uma outra história.
.


cmarcellus

Desculpe se eu sou influente no showbusiness


No meu funk vai Madonna
E a Betty Faria
A Tieta da novela
E a viúva Porcina
O Caetano me adora
O Silvio Santos também,
Pois sou a melhor amiga
Da filha número seis.
A hostess me avisa
Que barraram a Corona
Eu não tô nem aí
Só me importo com a Madonna.



A Sandy me ligou
Me pedindo uma carona
Mas eu já tô na pista
Com a Tati boladona
O Dylon chegou dançando
Pensando que é meu amigo
Só porque eu sou popular
Ele quer dançar comigo
E lá vem a Preta Gil
Me encochando por trás
Sai daqui minha, filha
Só me encocha o seu pai
Só porque é filha dele
Tá pensando que é a dona
Eu não danço contigo
Eu só danço com a Madonna.

Juli P.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sobre homens e hímens

[assionara souza]

1.
Era só uma menina. Com sonhos. Sonhos de fotografias. E grafismos. Inventar uma moda. Ficar, sim, bem famosa. Talvez aprender um instrumento. Saber bem. Estudar partitura. Uh, que difícil. A pele fresca. Os dentes com aquela borda ainda não serrada de todo. A adolescência e o sexo afoitos e delicados. Feito asas de borboleta. Hoje vai ter uma festa, diz o professor velhudo. Eles vão se apresentar na Casa e, olha, aparece lá. Abriu um sorriso e empinou o corpo todo pra frente. Que alta! Essa geração, hein! Puxa com tudo o cigarro. Muita força nesses lábios, guria. A cabeça cheia de pensamentos. As coisas que se pode aprender. E ele acha que está no papo. Mais tarde. Uma lingerie ... branca? A amiga chega junto. Segura o coisinho da jeans onde vai o cinto. Encosta-se. Hoje, a festa? Risadinhas. Uh, frescor. O velhudo com a apostila bate três vezes na palma da mão mordendo a língua dentro da boca esquisita. Que não se sustenta. Besta ao quadrado. Hoje! As duas saem saltitantes pelo pátio. À noitinha, esquenta no bar do Turva pra chegar no grau e não pagar bebida cara! Truques. Mas que vão. E chegam. No banheiro, desliza os dedos enterrando fundo a calcinha e PAN! PAN! Duas palmadas fortes na bundinha dura. Estica bem o preto/básico e aproxima a cara pro espelho. Ah, esse baton é ó-te-mo! Pernas que não acabam mais. Não vai cair nesse salto! Pensa no urso que ficou em cima da cama, no quarto da pensão, com aquele olhão regaladão. Seria o olho da mãe? Em outra cidade, cuidando que cuidando. Ela vai fazer publicidade & propaganda. Quase que escuta o ranger da cadeira de balanço da avó. Uma mão antiga e cheia de sinais; percussão de pensamentos. O coração esmorece. Mas o futuro é tão longe de tudo. Perto daqui. Agora mesmo. Abre as asas da porta e a música aumenta. Uma mesa de frente pro palco. Um terço da mesada vai todo por aqui? Não, que a amiguinha tem papai. Lá do balcão, a garçonete de cabelo curto James/bar olha pras duas. Marlboro do forte. E uma garrafa de... ah, vai esse mesmo! É bom, né? Uma gota no lábio vermelho que a ponta da língua sorve. Tem gente te filmando, guria. A música agarra no pescoço arrepiando. Uh! Olha os dois. Por que tu não vai lá, guria? Depois, depois. A noite é boa e a mãe dorme. A avó, há muito. Um grilo cava seco na lajota da cozinha. É verde? O ano foi bom. Deu pra trocar todo o piso. A menina está estudando na cidade. Bem, muito bem. O baterista agride os pratos. PAN! TUNTS! PAN! Risos. Vontade louca. Levanta e chega até o balcão. Cotovelos suspendem um pouco o corpo. Perna que dobra até, quase. Encostar a ponta do salto no traseiro. PAN! TUNTS! PAN! Bate no piso bem no ritmo. E canta. Dos treze aos quinze ficava em casa com o encarte do cd decorando letra de música. Sabia todos os hits. Gira e olha tudo em volta. Lá vem. Ladeiam-na. Você é bem altinha, hein, guria. A amiga acena e traga o cigarro irônica. Uma taça, por favor. E enchem que enchem. O bico dos peitinhos se atiçam. É bom isso, né? Ser, assim, querida de todos. Se brincar, dá umas três vezes. A idade do velhudo e a dela. Muito mais. E não é que ele parece aquele tipo do desenho?! O lobão. Ela acha engraçado. O peso da mão no seu ombro. Subindo forte pra nuca. Por que essa bocarra tão grande? Atola a língua inteira. Um gosto grosso de saliva e nicotina. Seria que tinha gostado? Mas até ali agüentando bem. Coragem é crescer de salto alto e sem cair. A amiguinha se aproxima. O outro é de História. Mas nada substitui as exatas. O corpo ficou pequeno quando ele enlaçou-a com o braço vermelho e peludo. Sentiu que boiava num daqueles pneus de caminhão que os primos enchiam pra descer o rio. A mãe comprava tudo combinandinho. E nem deixava ela ir. Só uma vez, mãe?! O coiso encostando atrás. Inútil sua mão minúscula tentar abrir aqueles dedos grossos. Quando olhou, nem viu mais a amiga.

2.
Pensava em se divertir um pouco. A noite é tão colorida. Encontrar no fim da tarde a amiga estranha. Bom essas amizades novas. Tomar um café no Franz e trocar altos segredos. Já estava entrando numa fase em que não era só riso e fantasia. Nã não! Coisa séria. E humor muito refinado. Porque as pessoas que lêem, tem, sim, um trato diferente com as palavras. Não é simplesmente número. Nada disso. Reflexão. Sensibilidade. Hum! Lembrou daquela uma amiga fútil/fútil que tomava champagne sem calcinha na sacada de um predião lá no Batel. Personagens que criava para as noites de tédio. E eram muitas. Se não podia ser, não era. E tal. Ah, tão sensivelzita que não cabia em si. Marcou com a louca, então, no Franz mesmo. Aqui perto de casa A luz na praça estava boa. A cidade tinha dessas. Uns locais especialíssimos. Árvores filosóficas largando cores no calçamento. Quando a poesia completa o ser não é preciso mais nada. Sofreu. Claro que sofreu. Uma viagem a Paris. Uma viagem a Nova Iorque. Que mais? Gostava de música também. Os simbolistas, eles sabiam tudo, não é mesmo? A louca achava que a moça que servia o café era triste de não caber. E aquele namoro que não acabava nunca. Empate na vida. Empate. Empate. Sim, por favor. Conte-me tudo, querida. Estou aqui para escutar você. Veja só essas roupas. Esse modo de vestir ultra/maisque/original. No fundo elas se amavam como duas crianças perdidas. E a solidão não deixa de ser uma coisa parecida entre mulheres. Veio uma jarra de chá gelado. Não pensavam em sexo. Só a louca. Que essa não sossegava nunca. Ela, por sua vez, queria um grau ótimo de sensibilidade. Precisava de mais poemas para o novo livro. Estava preparando. É pra quando, amiga? Quem visse, acharia muito estranho. Duas culturas, diriam. Altamente desencontradas. E mesmo assim, irmãs. Ninguém dava mais de trinta. Mas tinham. E temiam. A exigência era muito maior. Paixões esporádicas. Diz que conheceu um cara em São Paulo. Poeta. Falava horas com ele ao telefone. Olha, meu bem, não se zangue comigo. Eu não presto, mesmo. Você sabe. A literatura é a única mulher a quem jamais trairei. A louca ouvia. Teria uma delas deixado escapar uma furtiva lágrima? Não. Nada disso. Vamos? Saíram dali satisfeitíssimas da amizade que cultivavam. Todos estariam lá. E estavam. O evento literário bombando. Coisa mais mentirosa. As pessoas querendo não ser elas mesmas. Coisa de muito se envergonhar. A louca olhou, olhou. Não encontrou o ladrão por lá. Menos que mal. Já ter que aturar os de sempre. Estava com idéias. Vamos fazer uma coletânea. Alguma coisa que abale a cidade. Ela olhava e ria. Como que esse batom nunca sai dos lábios, querida? Parecia assim uma boca auto/limpante. Mas nem dez horas ainda. Podiam dar uma esticada. Por que não? Somos, as duas, criaturas muito independentes. E a noite, meu bem, você sabe – é uma criancinha de trinta anos. A louca sentou ao lado do clown. Ele era até bonito. Se não estivesse em fase de peitinhos. Podia bem encarar. E vinha a imagem daquele lenho grosso. Entrando. Saindo. Cansou que cansou. Só peitinhos, agora. Ai, querida, já por mim, digo, em mim, haha, adoro que adoro. Somos tão diferentes, não? O clown perguntou: você está com quantos anos? A louca riu o que podia rir. Mas é que lhe enchiam o copo. E estava bem pra lá de entediada. Essa era a verdade. Olhou pra outra. Tão solta. Parece que nunca a vira assim. Combinação. Duas poetas. Foi quando o ladrão chegou. O click. Dali em diante tudo podia ser muito arriscado. Ela deslizava. Trechos do Doors. Misturados com Chanson d´automne. As traças sabiam mais. Não resistiu e quis. Começou a entender as coordenadas. As pernas estavam quentes. Tinha saudades. Aquele tempo antigo. Mas não podia por nada ter saudade. A infância era longe. Chovia menos na cidade. Nada de capa-de-chuva amarelo vivo. Nada de pulos nas poças d´água da Pça Espanha. Mãe, deixa um dia tomar banho na fonte?! A mãe ria. O ladrão serviu uma taça mínima com uma bebida azul. Estavam onde? You know that I would be a liar. E realmente era. Nem um sinal da louca. Olhou-se no espelho do bar. O nariz sangrava.

3.
Tantas ele já tinha feito. Mas ela perdoava. Acreditava na camaradagem. Acreditava. Uma amizade sincera. E ele era um artista. Um homem sensível nem sempre é um homem fraco. Com ela era assim. Não sofria muito pra resolver tesão recolhido por amigo. Já trepava de uma vez e a amizade continuava a fluir sem problemas. Sem o entrave da possibilidade. Ela era um amigo com peitos. Eles faziam confissões das outras. Lembra daquela namorada?! Mesmo depois de gozar muito, enfiava uns trecos lá dentro e ficava urrando. Coisa mais louca. E todos riam. Não. Nem queria ouvir isso. Tinha tristeza. E um humor quente e vivo. Uma energia. Se outros e outras viam isso, por que ele não? Afinal, que porra de amizade era aquela? Ela queria ser comida. Por ele. Pelo amigo. Comida com gentilezas. Comida com afeições. Não simplesmente com esse sexo barato que ele fazia com outras. Amiga de um homem quer o que as outras não terão jamais. O que seria isso, ninguém sabia. Pois não era algo que se dissesse ou pensasse. Mas uma percepção que estava na entrelinha das relações. Os olhos dele eram indiferentes. Havia sim, um amor. De que natureza? Os dois sentavam num café. Os dois andavam pela rua. Um desejo de entender. Interpretar. Muito maior da parte dela. Queria saber daquela substância egoísta que o movia. E as paixões todas que ele vinha contar. Onde nasciam? Qual a fonte? Disponibilizava-se. Rompia acordos de encontros. Só para estar com ele. Importunava-se. Uma dúvida única. Ele não a queria? A intimidade podia até estar lá. Mas era ansiosa. Mentirosa. Sem leveza. Faça-me aqui o resumo de sua vida. Nada a ver com last time i saw Richard. Nada a ver com diamantes em pedaços de vidro. Nada a ver. O silêncio era impossível entre os dois. Pesava nela um sentimento feito líquido que se arrastava nas veias. Espalhava pelo corpo. Olhava pra ele e o líquido ia da garganta pelo corpo todo. Mesmo que sorrisse. Mesmo que ele acendesse o cigarro que ela tinha nas mãos. E parecesse gentil. Era rápida a velocidade com que os dias seguiam. Separaram-se de um modo esquisito. Sem um dizer nada ao outro. Se encontravam espaçadamente. Com uma suspeita da parte de ambos. Não eram mais amigos. Não eram nada. Uma sombra.Até que ele mudou de cidade. E pareceu que estava tudo bem. Falavam-se ao telefone. Com uma força. Uma verdade. Uma decisão boa. Uma crença. Ela desligava e sorria por um tempo. Encostada à parede. Pulso serrado. Fechava os olhos e respirava fundo. O que não foi. O que não vai ser. O que é sempre. Trocavam idéias de música. As confidências todas. Ah, você não toma jeito. E o desenho da voz indo e vindo. De um pra o outro. Um laço. Essas questões todas. Não deu outra. Ele veio à cidade. It´s decision time again. Claro que sim. Lá foi. Novamente. Mesma expectativa. O bar era o que eles iam sempre. Ela estava diferente. Talvez. Ele achou. E ele andava com um cara estranho. Um tipo que ninguém quer por perto. Virando copos e mais copos. Bebe aí, porra! Talvez ela tenha achado engraçado. A música alta. Tinham que falar quase gritando pra se ouvir. Os olhos iam se tornando cheios de intenção. Uma intenção quente e crua. O copo não parava muito na mesa. As mãos grossas do cara. No gesto repetido de encher e encher. Um sorriso maligno demais. Estranho aquilo. E ela olhava pra ele. O cabelo estava um pouco diferente. O ar um pouco cansado. A moça do bar veio avisar que estavam fechando. Ir para onde? Ah, não! Ele não mora muito longe. Você não é afim?! Passamos lá e matamos um! Ah, vamos! Deixa disso! Não é afim? Não. Não era afim. E foram. O banco de trás do carro do tal cara tinha um odor de pêlo e urina de cachorro. Mas ela deitou mesmo assim. Nem viu pra onde estavam indo. O carro parou bruscamente. Vamos sair um pouco! O parque é bonito à noite. Vem pra cá. Os faróis acesos. Parece que tocava Bob Dylan. E eles fumavam e riam desequilibrando-se. Mas não foi só pra acender o cigarro que se aproximaram. Cochichavam. Conversavam. Ela encostou as duas mãos no carro. Botou tudo pra fora. Tudo o que percebeu. Ali naquela cena. E foi o que se deu. Você não está bem, garota. Vem cá. Vem cá que eu te ajudo a ficar bem. A cara destroçada do cara se aproximando. Então era assim que tinha que ser? O corpo investia pesado contra o seu. Sim, era Bob Dylan. A respiração cortava com a dor. A uns três metros dela, o velho amigo de sempre observava. Sem se mover. Fumando muito concentradamente. Havia uma quase ternura em seu olhar. Um olhar sério e antigo. A que ela correspondia. Com todo o amor. Não podia chorar. Nem se livrar daquilo. Era mesmo amor. E como doía.

Sartrilégio


Não é fácil formar-se em Letras. Digo, não é fácil ser formado em Letras. Muito menos continuar no caminho das pedras, digo, das Letras. Você deve estar pensando que é porque vou ser pobre, mas não é nada disso. Pobre é você, se não no banco, no espírito. O difícil mesmo é que quando você é letrado às últimas conseqüências, te falta amor no coração para tolerar as besteiras que proferem sem pudores por aí. E como falam besteira. Dos analfabetos aos doutores, passando ferozmente pelos pseudo-intelectuais, todo mundo se "metida" a falar da nossa área cheio de propriedade. Falam de língua e literatura como xingam o juiz de ladrão. E é uma rajada de lugares-comuns, preconceitos, moralismo, divagações sem fundamento e besteiras afins. E me permito a revolta, pois nunca me entreguei a falar dos temas de propriedade dos engenheiros por aí. Se o fizesse, é provável que sairiam coisas do mesmo nível, e não quero nenhum engenheiro sentindo vergonha por mim. Mas nem todos têm a mesma sensatez (pelo menos com relação aos assuntos a debater). Sartre, por exemplo, é um desses. E é dos piores: o faz por escrito, oferecendo a eternidade às suas besteiras. Ontem li Que é a Literatura, do referido senhor. Li, aspas. Li até a página 42. E tive espasmos. É infinitamente ruim. Ele diz que os críticos são senhores cujas esposas mal humoradas dormem de calça jeans e não são suficientemente amados pelos filhos. Diz também que o leitor jamais chegará ao nível de compreensão de uma obra do autor. E completa diferenciando a prosa da poesia: para a poesia, a palavra é objeto, para a prosa a palavra é signo (tá, dá pra se pensar, mas se fosse uma regra teria talvés mais exceções do que casos que a seguissem...), e, portanto, a poesia não deve ser engajada, enquanto a prosa tem por obrigação a militância. Jezuz Christopher! A pessoa pensa que porque é O Sartre, pode falar o que bem entende. Acontece. Que o diga Mario Vargas Llosa e José Saramago. E não nos esqueçamos do nosso ilustre local Ferreira Gullar. Mas a estes prestarei minha humilde homenagem em momento oportuno. Agora quero saborear minha raiva do Sartre. Ah, por favor, quando eu ficar famosa me lembre de não falar sobre física quântica. Só por garantia.
Juli P.


Que é Quenga?

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Curitiba, PR, Brazil
n substantivo feminino Regionalismo: Nordeste do Brasil. 1 vasilha feita de metade de um coco-da-baía da qual se retira a carne 2 Derivação: por metonímia. o conteúdo dessa vasilha; quengo 3 Uso: tabuísmo. mulher que exerce a prostituição; meretriz 4 Uso: informal. coisa imprestável, inútil