segunda-feira, 31 de março de 2008

Metafóricamente falando - Uma tarde com George Lakoff por Ethan Strauss (traduzido por Beto)

O poder de juntar duas crenças contraditórias em uma mente simultaneamente, e aceitando ambas; Mentir deliberadamente enquanto acredita-se nas mentiras genuinamente; Esquecer fatos que se tornaram incovenientes, e então, quanto se tornam necessários novamente, retirá-los do limbo durante o tempo em que for necessário; Negar a existência da realidade objetiva e só para acreditar na realidade que outra pessoa nega. Tudo isso é indispensavelmente necessário. Até usar a palavra "ambíguo" é necessário para exercitar a ambigüidade. Por usar a palavra admite-se estar mexendo com a realidade; o uso da ambigüidade destrói esse conhecimento; e assim indefinidamente, com a mentira sempre um salto a frente da verdade.
- de 1984, por George Orwell

Decidimos nos encontrar no café "Free Speech Movement". Eu me remexo pela fila interminável do café, esperando que George Lakoff chegue. Estou nervoso a esse ponto, talvez até me cagando de medo. Caralho, ele é famoso - famoso para um lingüista, talvez, mesmo assim: famoso. Lakoff amontoa best-sellers, fundou o pensamento progressivo no Instituto Rockridge e se envolveu em uma disputa a lá repentista rapper com Noam Chomsky, o padrinho da lingüística. Não estamos falando de disputas escolásticas. Em suas briguinhas sobre teorias abstratas, Lakoff disse, "Eu acho [o trabalho político do Chomsky] muito parecido com sua lingüística. Ele tem uma visão filosófica da linguagem e não aplica isso a linguagem de fato." Para o qual Chomsky respondeu, "Morra lentamente, filho da puta, morra lentamente!"
Se você proeminente é o suficiente para irritar Chomsky, você é foda.
Por volta das 15:40, George Lakoff emerge. Eu escolhi cuidadosamente minhas palavras por hora (e talvez só por aquela hora). Um homem como Lakoff não chega simplesmente, ele emerge. George Lakoff tem uma aura, um magnetismo, uma mística, e, o mais importante, o requisito de um professor fodasso: uma barba aterradoramente inspirante. Estou intimidado. Parece um horrível encontro às cegas, e Lakoff percebe meu nervosismo. Ele sabe que é superior; não há a mínima chance que eu o impressione. Um homem com uma barba cuidadosamente talhada não teme nada. Esse é um dos grandes mistérios da humanidade; um homem mal barbeado passa suas tardes na praça "Berkeley's People"; já um homem com uma barba bem trabalhada, aparenta estar sempre um passo à frente de alguém que recebeu um Nobel. Isso é justo?

Você Parece Um Homem Devastador

Aproximadamente um minuto após o inicio da conversa ficou claro que Lakoff adora o conceito de “incriminar”, o que eu vim a entender como o "uso de uma metáfora entre-linhas para comunicar uma idéia". Enquanto Lakoff murmurava que "o que os conservadores têm feito é mostrar suas idéias gerais para que suas idéias de verdade fiquem fora de foco", eu comecei a sentir como se estivesse em "Waking Life" [filme], eu tava esperando que a barba de Lakoff começasse a brilhar e pular para fora do meu campo de visão.
Durante toda a entrevista, não pude deixar a idéia de que Lakoff estava em piloto automático. Eu me senti como o espelho em que ele pratica antes de um discurso. Ele até me interrompia na maioria das vezes, e resmungava quando meu comentário ou pergunta o desapontava.
Lakoff até faz sentido. Conservadores são bons no uso de metáfora para se conectar às mais profundas questões humanas. Eles são também espertos o suficiente para usar frases como "alívio de impostos / diminuir impostos", "absorção parcial de nascimento" [acho que se refere a impostos de acordo com a idade] e "pacifismo liberal" para subitamente fazer uma lavagem cerebral em você. Eu até concordo quando Lakoff diz que os conservadores "mentem efetivamente" [mentira funcional] quando propõe impostos como "Iniciativa pela limpeza do céu".
A entrevista corre bem, já que Lakoff não pára de falar, e portanto, o ambiente não está tão terrível. Então algo não relativo à barba me ocorre: minhas perguntas são chatas e tediosas. Chatas e tediosas! Tenho que fazer algo quanto a isso. O estoque de respostas para meu estoque de perguntas cresce tediosamente. De algum jeito eu invoco uma questão legítima.
"Quando você está tentando levar pessoas para o seu lado político, quando os fins não justificam os meios? Quando isso é anti-ético, quando isso é mentir?"
Tensão preenche o pesado ar com aroma caféico. Todos os pretensiosos clientes do café param de falar sobre o que eles viram no PBS na noite passada e sintonizam para ouvir a resposta de Lajoff à minha pergunta mestra.
Stephen Colvert e Walter Cronkite simultaneamente me dão tapinhas nas costas enquanto Lakoff decide como me responder. Bill O'Reilly me joga seu prêmio Polke através do café. Tá, eu inventei tudo isso (exceto que Bill O`Reilly estava lá e de fato me jogou seu prêmio Polke... juro pela minha vida!), mas a resposta de Lakoff é 1.000.000 % verdadeira. Ele disse "Eu rejeito a questão".
Quê?! Ele realmente disse isso? Faz três horas que eu não consigo dormir e tô bebendo Coca Diet e subitamente eu me encontro super acordado e curioso pra caralho. Quando eu peço que ele elabore, ele diz "Eu rejeito as premissas da sua constatação". Caralho, esse homem é o cânone lingüístico!
De algum jeito ele transmuta uma questão numa constatação, lhe dando a brecha para que desvie de uma questão pegajosa. Lakoff reitera que fazer alguém concordar com você pode ser uma estratégia honesta. Você tem meramente que dizer o que acredita usando metáforas, descobrir qual metáfora funciona, e usá-la repetidamente. Esse é o velho "os carros vendem-se a si próprios" que os vendedores de carros usam para se grantir. Se você tem um bom produto, não é necessário mentiras ou exageros para vendê-lo. Tudo o que você precisa é de um firme aperto de mão e um pouco de lábia. Se você acha que estou comparando Lakoff a um vendedor de carros, bem, não estou. Mas realmente parece que sim.
Não interessa que teoria lingüística você aplique para explicar isso, esse jeito de pensar mata você politicamente. Com certeza você não precisa de "truques" para vender seu produto, mas com certeza ajuda. A minha mínima parte idealista quer abraçar essa filosofia pró-honestidade, mas nem rola.
Milhares de anos da história humana estão contra Lakoff nessa questão.
Anteriormente na entrevista, ele me disse que os conservadores parcialmente se dão bem porque mentem. "Essa é parte do seu sucesso [dos conservadores]", diz ele "Eles usam linguagem rebuscada e enganosa". Mas agora ele me diz que mentir não ajuda? Ele é como um microcosmo de evolução lingüística; "não mentir" e "mentir" podem significar a mesma coisa em Lakoffiano, quando no contexto certo (leia-se "quando ele quer estar certo"). Ele diz o que quer e quando quer constantemente.

5 comentários:

  1. muito, mas muito bom. isso não deveria estar na quenga, que nem os colaboradores lêem (eu acho). deveria estar em algum lugar de mais evidência...

    Juli P.

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  2. eu leio a quenga, soh n entendo a maioria dos textos, mas leio

    beto

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  3. huahuahuahua... como assim "não entende"? vc tá querendo dizer que os colaboradores da quenga (na qual eu me incluo) são esquisofrênicos? ou quem sabe as editoras (na qual eu me incluo mais ainda, pq só divido este tão honroso cargo com a lili)?? aff... huahuahuahuahua... a gente é legal, tá. tá, eu admito. não somos. pelo menos eu sou uma nerd mal humorada e de mal com a vida. é por isso que as pessoas alegres não entendem meus textos...

    Juli P.

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  4. eu não falei sobre os seus textos, eu até entendo seus textos, super entendo a fábula dos sapatos. Sou até adepto dela. Mas não entendo textos como "O que é isso companheiro", que ao meu ponto de vista é uma mistura do samba do preto doido com uma pitada d'A Nova Roupa do Imperador. "Quem é burro não entende" me lembra aquela guria na minha primeira aula de Teoria Literária que não conseguia se explicar e, por isso, disse que eu não conseguiria entende-la.
    Se você não consegue apontar seu ponto de vista claramente, ou explicar suas opiniões, o burro é você e não seu leitor. [e você nesse caso não é você, julieta meu amor, e sim o escritor daquele fétido texto]

    Beto

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  5. Então acho que poderia fazer uma crítica, lá... Críticas são bem vindas! Sinal de que alguém está lendo!

    Juddy Funny

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