domingo, 27 de abril de 2008

Profissão: Bunda



A bunda tem que ser livre para se expressar
Di Casqueaux, 1957.

É, não é BUDA, é bunda mesmo! Neste país tropical abençoado por deus e bonito por natureza ganhar a vida não é fácil. Nós, futuras críticas literárias, estamos cada dia mais cientes do perigo que enfrenta o trabalho artístico e intelectual na terra das bananas. Mas, uma profissão no final das contas é o que a gente faz para viver. Resulta que algumas pessoas têm alguns dotes naturais que permitem que isto seja logrado com um pouco mais de êxito. Ou não. É o caso da nova estrela do underground funk brasileiro: A Mulher Melancia.
Fenômeno de mídia, conhecida pela performance do “Créu1”, espera que sua imagem seja desvinculada de clássicos da MPUBS2 como ‘Cerol na mão’ 3, ‘Atoladinha’4, Boladona5, só pra citar alguns exemplos. Seus esforços vão na direção de afirmar sua subjetividade no meio da massificação do mundo capitalista atual. A indústria cultural está cada vez mais afetada pelo fenômeno acusado sabiamente por Walter Benjamin da regressão auditiva. Esquecemos que a arte não é produto, não é material de consumo. Ela tem um fundamento estético que toca no mais profundo da sensibilidade humana.
Dessa forma, a Mulher Melancia empreende uma luta diária nos meios de comunicação em massa pela defesa do cerne de sua arte, se negando a assumir uma posição que a transforma num produto vendável. Louvores a ela. Declara que não almeja ser modelo, dançarina, atriz, cantora, apresentadora de TV, bailarina, divulgadora de bens de consumo, escritora de auto-ajuda, personal treiner ou empresária do ramo estético. Seu nobre desejo é o de exercer dignamente o papel que lhe foi atribuído pela própria natureza, e a mãe natureza é sábia. A Mulher Melancia, ou melhor, seus glúteos, segundo o Houaiss6 definidos como o conjunto das nádegas e do ânus, são uma obra de arte da mãe natureza, e uma obra de arte não precisa de razão ou função.
Deus não dá o peixe, ensina a pescar e a Mulher Melancia trabalha arduamente em prol da obra do senhor7. Você leitor, pensa que é fácil manter um bumbum daqueles? Se você respondeu que sim, corra agora até o espelho mais próximo e confira o seu. Viu? Alteração visível da pele ou do tecido subcutâneo, às vezes de natureza infecciosa8, faixa, ou conjunto de faixas, de pele delgada e retraída, inicialmente vermelha mas que se torna esbranquiçada, e que ocorre esp. no abdome, nádegas e coxas, como resultado de hiperextensão da pele e atrofia da derme9, erupção folicular, papilar ou pustulosa resultante de inflamação com acúmulo de secreção, que afeta as glândulas sebáceas10 ou vaso sangüíneo ou linfático, esp. veia, dilatado e tortuoso, cuja parede perdeu a elasticidade; flebectasia11. São apenas alguns dos problemas que atingem a poupança dos populares. Ou seja, daqueles que não tem uma obra de arte abaixo das costas. Não abaixo as costas, que fique claro que não temos nada contra elas.
Jenifer Lopes, Carla Perez, Gretchen, Sheila Carvalho& Melo, Zezé de Camargo & Luciano, Feiticeira, Tiazinha, Mary Alexandre e Júlio12 são apenas alguns dos portadores de bundas que transcendem suas próprias existências, mas não compreendem o valor do seus popôs. Nenhum dos popozudos anteriormente citados leu Aristóteles. Como provavelmente você também não, mas a Mulher Melancia leu, caso contrário seguiria o exemplo nefasto dos seus colegas que insistem em achar uma função rentável para suas bundas. Blasfemam contra a verdadeira arte quando ignoram que a única função do objeto artístico é ser Belo13. Aristóteles abriria uma sorriso de orelha à orelha presenciando Mulher Melancia e suas melancias de atitude, que sabem o valor ontológico da arte.

Este texto foi possível sem a ajuda do CNPq e da Capes (já que ninguém aqui recebeu dinheiro nenhum deles neste mês, mas estamos abertas a propostas).

As Editoras (Lili & Juli P.)



1 “Para dançar créu tem que ter disposição, para dançar créu tem que ter habilidade, créu¸ créu¸ créu¸ créu¸ creu”(...) CRÉU, Mc. CRÉU. Cracolândia, 2007.
2 Como é de domínio público: Música Popular Urbana Brasileira Sacana.
3 “Eu vou passar cerol na mão, assim, assim, vou aparar pela rabiola, vou sim, vou sim(...)” TIGRÃO, Bonde do. Cerol na mão. Rio de Janeiro, 2001.
4 “Piriri, piriri, piriri, alguém ligou pra mim, quem é? sou eu bola de fogo(...)”QUEBRA-BARRACO, Tati. Atoladinha . Rio de Janeiro, 2005.
5 “Boladona, boladona, boladona, boladona, pam, pam, pam pam pam pam pam pam pam, boladona, boladona (...)” op. cit. Boladona. Rio de Janeiro, 2005.
6 Aurélio pai dos burros, Houaiss pai dos cultos.
7 Lembremos a respeito de outro clássico da série da MPUBS: “O senhor é meu paxtorrrr, e nadá me faltará. CATRA, Mixterr. Salmos do funk: a hora da alegria. Rio de Janeiro, 2007.
8 Vulgo: Celulite.
9 Vulgo: Estria.
10 Vulgo: Espinhas.
11 Vulgo: Varizes.
12 Vulgo: Putinha proletária. Opa, proletária não.
13 Belo este que graças ao bom pai eterno já saiu do xilindró.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

ÀDRIA

Àdria ela se vestiu, abriu a porta e saiu para sua prisão. Nunca soube o que era liberdade com aqueles fios de moral a lhe apertar. Mas não deixava nenhum sonho, por mais tolo que fosse, escapar dos seus olhos vermelhos; e se um inventava de fazê-lo... Àdria jogava lágrimas e eles voltavam maiores do que antes.
Quando já descia as escadas de papel, lembrou da chave na fechadura; mas não voltou para buscá-las. Já que não voltaria mais ali.
Respirou. Seguiu adiante, sem hesitar.
O interessante é que lá fora voava um vento arranca-postes-árvores-e-sofrimentos. E os arrancou de Ádria. Nada permaneceria no mesmo lugar, tão resoluta ela estava que aquele era o tempo exato para o que almejava: colocar expor arregaçar lançar o seu peito o seu coração para fora para que vissem o tamanho amor que carregava ali dentro embora muitas vezes seus olhos dissessem nada disso mas era aquilo que naquele instante subia ao espírito dos presentes pai mãe amigos amigas heteros gays crianças velhos estranhos empresários médicos budas cristos deuses Deus vícios tudo isso de um só vez na cara de todo mundo até os mortos ficaram assustados.
Até os mortos eles queriam ser engolidos por aquela luz vermelha nada de sangue de Dor e sim sangue de amor jorrando da fonte de seu corpo agora nu agora nua Ádria se deu a ficar como veio ao mundo na frente de todo mundo.
Agora era hora de partir.
Agora.
Sem demora.
Pegou um cálice de poesia da bandeja do garçom e... transfigurou-se em Beleza.
Isso mesmo: em Beleza!!!
Ádria ficara bela aos olhos de quem escreve este conto; e sabe em insana consciência que te lançou por alguns minutos alguma forma de delírio que nem mesmo quem escreveu este conto sabe explicar.
Abismo se faça em ti, leitor!...
Wanilson Pereira

Que é Quenga?

Minha foto
Curitiba, PR, Brazil
n substantivo feminino Regionalismo: Nordeste do Brasil. 1 vasilha feita de metade de um coco-da-baía da qual se retira a carne 2 Derivação: por metonímia. o conteúdo dessa vasilha; quengo 3 Uso: tabuísmo. mulher que exerce a prostituição; meretriz 4 Uso: informal. coisa imprestável, inútil