segunda-feira, 27 de outubro de 2008

auto-ajuda americana: modo de ler

Sempre gostei de escritores cínicos e/ou irônicos, desde um Luis Fernando Veríssimo, em que fica bem claro o que é ironia e que não passa de ironia, até um Dalton Trevisan, em que o cinismo toma proporções tais que certas pessoas são capazes de tomá-lo literalmente. Rubem Fonseca seria um meio-termo entre eles. Mas neste assunto o melhor do mundo - do mundo - é sem dúvida o machadão, como quando em Esaú e Jacó o conselheiro Aires diz que, como não tem nenhuma religião, de certa forma aceita a todas da mesma maneira. Vale lembrar que Machado morreu se recusando a receber a visita de um padre que queria lhe dar a unção dos enfermos.
Mas toda esta turma está correndo sérios riscos, pois está se formando uma séria concorrência de uma galera aí do norte, destes livros que sempre começam com números: 7 leis para ser feliz, 10 caminhos para fazer sucesso, 7 sacramentos da felicidade, 5 mandamentos dos pais, 8 dicas para ser um bom cunhado, porque as mulheres têm voz fina e os homens falam grosso etc. Quando você vai olhar a orelha, está dizendo que o cara é filósofo! Quer dizer que o século 21 está cheio de novos Sócrates! Talvez eles até tenham passado por uma faculdade de filosofia na califórnia ou em boston, arranhando um Dewey ou um Adam Smith e fazendo do dever kantiano o emblema do puritanismo white anglosaxonic protestant, mas eu faria questão de falar bem baixinho numa destas orelhas que a filosofia é o único curso em que, quando você se forma, não é nada! Filósofo? Tudo bem, pode até ser, o assunto aqui é mesmo a ironia, não é?
Certa vez um amigo disse que, assim que se formasse, escreveria um livro chamado "Como ganhar dinheiro escrevendo livros de auto-ajuda", um livro, dizia ele, típico de filósofo frustrado. Mas eu acho que a concorrência, mais do que na filosofia, está mesmo é no humor. Estes dias peguei um livro, que meu pai me obrigou a ler, chamado "Os segredos da mente milionária" e posso dizer que me diverti muito, parte dos capítulos era destinada a uma espécie de apologia da riqueza, mediante a crítica do preconceito que a "mente pobre" tem dos ricos, eu realmente dei umas boas risadas, e muito sinceras, que fizeram diminuir o meu Veríssimo na estante. Percebi que há algo a ser aproveitado em toda esta sub-literatura, ou melhor, que ela é perfeita. Basta escrever um prefácio deixando claro que se trata de uma caricatura e, como num passe de mágica, todo o conteúdo passaria, sem mudar uma linha sequer, de auto-ajuda para paródia da mesma.
Sem essa de que auto-ajuda americana é sub-literatura, ela é, na verdade, algo tão sutil que traz em si a própria paródia, são livros auto-depreciativos por excelência, um neo-kafkianismo, as pessoas é que os lêem de forma errada, ipsis litteris, basta uma mudança de point of view e voilà! Temos o melhor humor que já se produziu em todos o tempos, envolvido na mais fina sutileza, longe de qualquer ironia grosseira, de quaisquer críticas cheias de remorso, pois a melhor forma de falar mal de alguma coisa é amando esta coisa, só assim este falar-mal é completamente imparcial. E, então, poderíamos dizer: quem diria! um escritor tão medíocre era, na verdade, uma revelação do humorismo!

Otávio Luiz Kajevski Junior

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

CARDÁPIO FALOCENTRISTA

Por Julius Calígula Caesar [Júlio para os íntimos]

(Uma opção “vegetariana” no restaurante que tem o “Cardápio Curitibano”)

Clóvis: Sujeito esguio. Sempre pronto para se gabar das qualidades que pensa ter. E quanto à fama de comedor? Mentira! É ruim de cama e tem uma minúscula piroquinha .

Kleyton: Um tanto quanto arrogante. Na fila pra feiúra, passou ao menos umas três vezes. Mas como dizem: Quem vê cara não vê o que tem dentro do calção. Reza a lenda que agüenta horas a fio sem tirar e que o tamanho assusta até mesmo a mais larga das meninas do passeio público.

Gilberto: Típico pedreiro. Não pode ver um rabo de saia passando, que logo dá aquala pulada de cerca básica. A mulher jura que é um santo.

Ricardo: É do tipo radical. Tem vários piercings em diferentes partes do corpo, alguns erogenamente localizados, e também dezenas de tatuagens. A última foi feita no próprio membro, teso, com os dizeres “Meu pau no cu, na boca, vou meter-vos”.

Gabriel: Robusto. Barba farta. Ombros largos. Peito cabeludo. Um tombo.

Fernando: Inicialmente parece ser só um nerd. Virgem e viciado em jogos on line. Fachada! Puxando o exemplar de Contos Libertinos, a parede revela um aposento secreto repleto de acessórios que assustaria até mesmo o mais pervertido leitor desta resvista, de algemas à chicotes, de correntes a consolos à la Kid Bengala.

Hugo: Faz unhas, cutículas, sobrancelhas.

Beto: Michê.

Alex: Tem muito amor pra dar. Em se tratando do seu desempenho não há um conceito definido; há quem diga que faz loucuras e há quem diga que é a brochura em pessoa – quando alguém o questiona sobre esse fato, mais que depressa responde: “Estou sempre aberto. Vamos pra casa comigo e tire suas próprias conclusões.”

Bob: Músico, boêmio, disputado. Despudorado.

Renato: Dizia-se hétero, mas um “Ah, Leila, eu também!”, depois do comentário da mesma “Ah, eu preciso de um homem!”, revelou suas verdadeiras ganas.

Duas amigas:

[...]

-É, poderia ser melhor, diz.

-Ah! Não reclama. É de graça. Tudo bem que a variedade não é lá aquelas coisas. Bom... Eu quero um de cada, pra começar...

[...]


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Spleen TS Elliot- Tradução

Segunda: processão satisfatória
Das caras definitivas de domingo.
Gorros, chapéus e graças conscientes
Em repetição que afasta 
a autoconsciência
pela involuntária digressão .

Tarde, luzes e chá!
Crianças e gatos no parque;
Tristeza incapaz de correr
Contra essa chata conspiração.

E brinca, um pouco seco e cinza,
Languido, fastidioso e maçante.
Espera. Chapéu e luvas à mão,
Amarrado de gravata e traje,
(de algum modo impaciente pelo atraso)
Na porta do Absoluto.

 Janeiro 1910

Tradução - Lívia F. M. (Lili)

Que é Quenga?

Minha foto
Curitiba, PR, Brazil
n substantivo feminino Regionalismo: Nordeste do Brasil. 1 vasilha feita de metade de um coco-da-baía da qual se retira a carne 2 Derivação: por metonímia. o conteúdo dessa vasilha; quengo 3 Uso: tabuísmo. mulher que exerce a prostituição; meretriz 4 Uso: informal. coisa imprestável, inútil