sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os dez mandamentos da Igreja de Nosso Senhor JC da Lubrificação

01 - Serás pelo menos uma vez na vida untado em cada um dos azeites mais populares da culinária e medicina popular barasileira. Se fores gringo, deves visitar o Brasil para isto. Faças o quando antes, pois podes morrer a qualquer momento.

02 - Guardarás e fornicaras, no mínimo, nas sextas, sábados, domingos, dias santos e feriados e não deixarás de comparecer aos ritos, festas e louvores celebrativos destas datas.

03 - Jamais, de forma alguma, de jeito nenhum e em dia algum esquecerás os propósitos de nosso senhor para ti e para o teu próximo. Na ausência de um próximo, entregue-se ao prazer solitário.

04 - Não fornicarás com pai, mãe e irmãos, mas zelarás pela família e sua lubrificação ausentando-se do lar sempre que necessário. Cante o canto da lubrificação, vire-se e não olhes para trás.

05 - Entregue-se sempre que possível às tentações libidinosas da carne. Jamais, de forma alguma faça abstinência sexual. Isto romperá a aliança entre a santíssima promiscuidade e ti. Caso cometas essa falta, começa a executar o próximo mandamento.

06 - Adorarás aos santos-de-pau-oco de todas as lubrificações bem como as suas imagens vibrantes e grutas escuras, úmidas e quentes. Eles serão seus guias durante a tormentosa abstinência.

07 - Cobiçarás as mulheres e homens do próximo, e cobiçaras o próximo também e tudo que puder resultar em prazer. Lembre-se que o senhor te ama e criou o mundo para alegrar-te.

08 - Matarás tempo, aulas, trabalho e tudo que possa te desviar do santo caminho prazeroso que o senhor traçou para ti. As atividades libidinosas glorificam o pai eterno e estão sempre em primeiro lugar.

09 - Dedicarás parte do teu tempo ao conhecimento de novas e diversas línguas. Isto possibilitará a evangelização e lubrificação de todos os povos. Dialetos regionais não devem ser ignorados: existem mais diferenças de uma língua pra outra do que podemos imaginar e ninguém deve ser excluído do grande plano do senhor para um mundo mais feliz.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Paulo Coelho: ame-o ou deixe-o

Por Otávio L. Kajevski Jr.


Alguém me disse uma vez: “há dois tipos de pessoas: as que amam Paulo Coelho e as que odeiam”. Ressentido, respondi que, se era assim, eu era uma espécie rara que se contentava em ignorá-lo. Eu simplesmente não conseguia me conformar com a idéia de que o mundo se dividia em dois grandes grupos: os amigos do Paulo e os inimigos do Paulo. Mas, pelo olhar de ironia que recebi, percebi que acabava de ser classificado entre os seus inimigos. Não havia escolha, quem não está do lado de Deus está na unha do capeta e eu acabava de entrar na unha do capeta por não estar do lado de Deus. De fato, se eu não odiava PC até então, passei a odiar ou, pelo menos, a não gostar, não pelo que ele escreve nem nada, mas simplesmente por ter sido julgado em seu leporídeo nome. Só então percebi o tamanho do fenômeno, como diz Roberto Gomes: “Acho Paulo Coelho um fenômeno. Na minha infância, volta e meia aparecia um circo da cidade exibindo a mulher-aranha, a vaca de duas cabeças, o troglodita que moía pedras com os dentes – enfim, fenômenos” (Os truques e os números do Coelho, em Gazeta do Povo, 3 de abril de 2005). Há quem diga que não se pode falar mal de PC sem conhecê-lo, com o que até concordo se estivermos falando de seus livros, mas todas as vezes que PC chegou até mim não foi como escritor, mas como uma espécie de tema, algo em relação a quê devemos ser a favor ou contra, como o aborto ou a eutanásia. Isso prova que PC é, antes de qualquer coisa, um fenômeno cultural, como a religião, o rap etc. “Com isso – diz Wilson Martins – ele próprio se situa fora da literatura, no que não vai, de minha parte, nenhuma intenção depreciativa, antes o desejo de situar o fenômeno em seu campo próprio, a sociologia do gosto e da cultura” (Profeta secular, em Gazeta do Povo, 25 de outubro de 2008). Porém, antes que os amantes de PC atirem a primeira pedra, é preciso deixar claro que não há nenhuma conspiração internacional contra eles, até porque isso teria efeito contrário, fortalecendo-os como minoria oprimida – embora “minoria” não soe bem no caso – e lhes dando cada vez mais direitos de resposta, até que criassem um dia só pra eles no calendário e essas coisas, com passeata e tudo, como a consciência negra ou o orgulho gay. O fato é que, querendo ou não, PC virou uma questão de personalidade, digamos que, mais do que um escritor, ele é um estilo de vida. É notável como todos os seus leitores se mostram cientes de sua demonização pela crítica e encaram o fato com espantosa serenidade e um cinismo de pôr inveja a um Machado de Assis! Experimente falar mal de PC a um de seus fãs e verá que ele te destrói em poucas palavras sem que sequer uma ruga de preocupação lhe surja na testa, e quem sai com fama de “pseudointelectual que fala mal sem ter lido” é você. Ora, que belo marketing! Leu? Tudo bem. Não leu? Vai ler pra falar mal. Se quiser ganhar a discussão, nem pense em citar Adorno, terá de apelar para o lado emocional, e é claro que, com esse critério, eles sempre irão ganhar. Mas pelo menos isso denuncia o quanto os seguidores do Coelho já tiveram que se defender antes de adquirir tal poder de persuasão... No início devem ter sofrido mas, com o tempo, foram crescendo - e, sobretudo, se unindo - e hoje adquiriram tamanha auto-confiança que são capazes de abrir o seu Alquimista em pleno ônibus sem a mínima vergonha. Provavelmente, tudo o que precisaram foi de um empurrãozinho inicial pra perder o preconceito. Pois diante de PC não temos escolha: quem não estiver a seu favor, está contra ele. De resto, to know him is to love him. Na certa aqueles que falam mal é, no mínimo, porque nunca o leram: assim que se depararem com aquela edição “show de bola” de Brida ou de Onze minutos, vão se dar conta do tempo que perderam com Kafka, Hemingway e cia ltda, haja visto a originalidade de palavras coelinas como estas: “Mas o espírito não tem nome, é a verdade pura, está habitando aquele corpo por determinado período, e um dia o deixará – sem que Deus se preocupe em perguntar ‘quem é você?’ quando a alma chega diante do julgamento final. Deus perguntará apenas: ‘Você amou enquanto estava vivo?’ A essência da vida é essa: a capacidade de amar e não o nome que carregamos em nossos passaportes, cartões de visita, carteiras de identidade. Os grandes místicos trocavam seus nomes, e às vezes os abandonavam pra sempre...” (O Vencedor Está Só. Rio: Agir, 2008, citado por Wilson Martins). Trata-se de um discurso de deixar no chinelo as Epístolas de Paulo e em cujo estilo se podem entrever reminiscências das Confissões de Santo Agostinho!, predicados que, entretanto, fogem à displicência e à rabugice de um Wilson Martins, que interrompe PC com um mal educado “etc. etc. etc.”: “é o mesmo velho Paulo Coelho, moralizante apologal que tomou o festival de Cannes como metáfora do Inferno, onde há crimes, sofrimento e ranger de dentes, para nada dizer da ausência de Deus... percebe-se o tom, a linguagem e o gabarito intelectual das pregações evangélicas”. Enfim, se o discurso aqui, no geral, ficou meio clichê, só posso alegar que o foi, não pela natureza da abordagem, mas pela natureza do tema.

Que é Quenga?

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Curitiba, PR, Brazil
n substantivo feminino Regionalismo: Nordeste do Brasil. 1 vasilha feita de metade de um coco-da-baía da qual se retira a carne 2 Derivação: por metonímia. o conteúdo dessa vasilha; quengo 3 Uso: tabuísmo. mulher que exerce a prostituição; meretriz 4 Uso: informal. coisa imprestável, inútil