quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Paulo Coelho: ame-o ou deixe-o

Por Otávio L. Kajevski Jr.


Alguém me disse uma vez: “há dois tipos de pessoas: as que amam Paulo Coelho e as que odeiam”. Ressentido, respondi que, se era assim, eu era uma espécie rara que se contentava em ignorá-lo. Eu simplesmente não conseguia me conformar com a idéia de que o mundo se dividia em dois grandes grupos: os amigos do Paulo e os inimigos do Paulo. Mas, pelo olhar de ironia que recebi, percebi que acabava de ser classificado entre os seus inimigos. Não havia escolha, quem não está do lado de Deus está na unha do capeta e eu acabava de entrar na unha do capeta por não estar do lado de Deus. De fato, se eu não odiava PC até então, passei a odiar ou, pelo menos, a não gostar, não pelo que ele escreve nem nada, mas simplesmente por ter sido julgado em seu leporídeo nome. Só então percebi o tamanho do fenômeno, como diz Roberto Gomes: “Acho Paulo Coelho um fenômeno. Na minha infância, volta e meia aparecia um circo da cidade exibindo a mulher-aranha, a vaca de duas cabeças, o troglodita que moía pedras com os dentes – enfim, fenômenos” (Os truques e os números do Coelho, em Gazeta do Povo, 3 de abril de 2005). Há quem diga que não se pode falar mal de PC sem conhecê-lo, com o que até concordo se estivermos falando de seus livros, mas todas as vezes que PC chegou até mim não foi como escritor, mas como uma espécie de tema, algo em relação a quê devemos ser a favor ou contra, como o aborto ou a eutanásia. Isso prova que PC é, antes de qualquer coisa, um fenômeno cultural, como a religião, o rap etc. “Com isso – diz Wilson Martins – ele próprio se situa fora da literatura, no que não vai, de minha parte, nenhuma intenção depreciativa, antes o desejo de situar o fenômeno em seu campo próprio, a sociologia do gosto e da cultura” (Profeta secular, em Gazeta do Povo, 25 de outubro de 2008). Porém, antes que os amantes de PC atirem a primeira pedra, é preciso deixar claro que não há nenhuma conspiração internacional contra eles, até porque isso teria efeito contrário, fortalecendo-os como minoria oprimida – embora “minoria” não soe bem no caso – e lhes dando cada vez mais direitos de resposta, até que criassem um dia só pra eles no calendário e essas coisas, com passeata e tudo, como a consciência negra ou o orgulho gay. O fato é que, querendo ou não, PC virou uma questão de personalidade, digamos que, mais do que um escritor, ele é um estilo de vida. É notável como todos os seus leitores se mostram cientes de sua demonização pela crítica e encaram o fato com espantosa serenidade e um cinismo de pôr inveja a um Machado de Assis! Experimente falar mal de PC a um de seus fãs e verá que ele te destrói em poucas palavras sem que sequer uma ruga de preocupação lhe surja na testa, e quem sai com fama de “pseudointelectual que fala mal sem ter lido” é você. Ora, que belo marketing! Leu? Tudo bem. Não leu? Vai ler pra falar mal. Se quiser ganhar a discussão, nem pense em citar Adorno, terá de apelar para o lado emocional, e é claro que, com esse critério, eles sempre irão ganhar. Mas pelo menos isso denuncia o quanto os seguidores do Coelho já tiveram que se defender antes de adquirir tal poder de persuasão... No início devem ter sofrido mas, com o tempo, foram crescendo - e, sobretudo, se unindo - e hoje adquiriram tamanha auto-confiança que são capazes de abrir o seu Alquimista em pleno ônibus sem a mínima vergonha. Provavelmente, tudo o que precisaram foi de um empurrãozinho inicial pra perder o preconceito. Pois diante de PC não temos escolha: quem não estiver a seu favor, está contra ele. De resto, to know him is to love him. Na certa aqueles que falam mal é, no mínimo, porque nunca o leram: assim que se depararem com aquela edição “show de bola” de Brida ou de Onze minutos, vão se dar conta do tempo que perderam com Kafka, Hemingway e cia ltda, haja visto a originalidade de palavras coelinas como estas: “Mas o espírito não tem nome, é a verdade pura, está habitando aquele corpo por determinado período, e um dia o deixará – sem que Deus se preocupe em perguntar ‘quem é você?’ quando a alma chega diante do julgamento final. Deus perguntará apenas: ‘Você amou enquanto estava vivo?’ A essência da vida é essa: a capacidade de amar e não o nome que carregamos em nossos passaportes, cartões de visita, carteiras de identidade. Os grandes místicos trocavam seus nomes, e às vezes os abandonavam pra sempre...” (O Vencedor Está Só. Rio: Agir, 2008, citado por Wilson Martins). Trata-se de um discurso de deixar no chinelo as Epístolas de Paulo e em cujo estilo se podem entrever reminiscências das Confissões de Santo Agostinho!, predicados que, entretanto, fogem à displicência e à rabugice de um Wilson Martins, que interrompe PC com um mal educado “etc. etc. etc.”: “é o mesmo velho Paulo Coelho, moralizante apologal que tomou o festival de Cannes como metáfora do Inferno, onde há crimes, sofrimento e ranger de dentes, para nada dizer da ausência de Deus... percebe-se o tom, a linguagem e o gabarito intelectual das pregações evangélicas”. Enfim, se o discurso aqui, no geral, ficou meio clichê, só posso alegar que o foi, não pela natureza da abordagem, mas pela natureza do tema.

7 comentários:

  1. Bem eu li Paulo Coelho, dois livros apenas, e acho que não tem tanta profundidade como outros livros que li, mas também não são de todos ruins.... pra passar o tempo até que é razoável.

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  2. Eu li seis e fico debaixo da unha do capeta. Quando se tem 14 anos é maravilhoso, passou disso é absurdo.

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  3. Eu li seis e fico debaixo da unha do capeta. Quando se tem 14 anos é maravilhoso, passou disso é absurdo.

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  4. Li um, achei um arroz com feijao bem feitinho, mas sem nada de extraordinario.

    Nao me chamou tanto a atencao a ponto de ler outro livro dele

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  5. kkkkkkkkkkkkkkkkk deve ser por isso que admiro tanto Paulo Coelho, porque sem ele nem mesmo imaginar, pessoas ainda perdem seu tempo falando dele.
    como são tolos, vocêS discutem o favoretismo ou não a Paulo Coelho, quanta futilidade.
    se ele soubesse disso certamente riria em suas caras, seres despreziveis é o que são, incapazes de perceber a essência das coisas.
    as obras de Paulo Coelho não são para serem apreciadas como as obras clássicas da história, e tão pouco uma alta ajuda.
    Elas são simplesmente obras para aqueles que apreciam a vida espiritual e acreditam nela, isso com toda certeza não é para qualquer um, acreditar no que não se pode compreender nem tocar, deve ser isso que encomoda tanto os opositores dele.

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  6. Eu só queria saber quando que a Revista Quenga volta a circular?

    tava vendo a bolsinha rodar.

    posso enviar um textículo?

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n substantivo feminino Regionalismo: Nordeste do Brasil. 1 vasilha feita de metade de um coco-da-baía da qual se retira a carne 2 Derivação: por metonímia. o conteúdo dessa vasilha; quengo 3 Uso: tabuísmo. mulher que exerce a prostituição; meretriz 4 Uso: informal. coisa imprestável, inútil