quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O PRANTO DA CONA DA PUTA

Atrelado ao pudor hipócrita daquela pequena cidade provinciana ele estava, condescendente ao costume pequeno burguês, discurso falso moralista e ao legado persa do maniqueísmo.
Trinta anos casado com Marisa Stela, cocota de família abastada, vinte anos amante semi declarado de Augusta Virgínia, viúva do coronel Rodrigues Sarça. Funcionário da Caixa por trinta e um, pais de quatro, dono de terras, carros, gentes, caminhava conforme o cabresto oculto de sua mãe, finada há dez.
Turrão, negava pão aos pobres e se contrariava ao fartar as mãos da igreja, representada pelo padre Onório, conhecido pela bifurcada língua e pela libidinosa lascívia com que se entregava aos jovens braços dos coroinhas.
Jazeu, com 59, na pútrida poça de sangue e vômito de sua última refeição, sopa de aspargos com bucho. Marisa sequer o limpou, os quatros brigaram pelos restos de mediocridade que o inventário garantia, a viúva de Sarça arranjou um vinte e cinco mais novo, o padre nada celebrou, alegando suicídio, pois ninguém se prontificou a pagar os custos do velório.
Caiu em vala comum, com bucho nas narinas e no seboso colarinho, regado aos prantos de Das Dores, puta, com quem, declarando fervoroso asco, negava olhares e ares em público. Foi só em seus braços e no regato da imunda cona de vasta melena crespa, devoradora sequiosa de quase todos os falos da cidade, que ele gozou e chorou.

Alexsandro Teixeira Ribeiro
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Um comentário:

Fala que a Quenga te escuta!

Que é Quenga?

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Curitiba, PR, Brazil
n substantivo feminino Regionalismo: Nordeste do Brasil. 1 vasilha feita de metade de um coco-da-baía da qual se retira a carne 2 Derivação: por metonímia. o conteúdo dessa vasilha; quengo 3 Uso: tabuísmo. mulher que exerce a prostituição; meretriz 4 Uso: informal. coisa imprestável, inútil